AGRONEGÓCIOS
Reflexões sobre o XII Seminário
da FAEA (2)
Conforme
anunciado no artigo da última semana, volto a fazer alguns comentários sobre
assuntos que foram temas do excelente seminário recentemente promovido pelo
Sistema FAEA/SENAR. Assim como poderia ter sido escolhido nosso cacau nativo
(que já tem a experiência da Ceplac e um Brasil importador desse produto) o
Amazonas Rural acertou ao priorizar a piscicultura como atividade que pode gerar o tão sonhado
emprego e renda no interior do estado. Entretanto, no caso da piscicultura,
como sempre lembra o próprio secretário de pesca, Geraldo Bernardino, sem a
garantia do abastecimento interno do milho para reduzir o custo da ração e, com
isso, ganharmos competitividade no preço final de comercialização do pescado
(tambaqui, matrinxã etc) o sucesso da atividade pode ficar comprometido. Pensando
na regularidade desse abastecimento, o presidente do Sistema FAEA/SENAR, Muni
Lourenço, esteve, na última semana, em audiência com o ministro Mendes
Ribeiro/MAPA reivindicando a disponibilidade de aproximadamente 40 mil
toneladas de milho ao criadores rurais do Amazonas e, também, a inclusão da
piscicultura nos leilões de estoque público e no Programa de Vendas em Balcão
da Conab. Como dito no artigo passado, essa dependência de milho de outros
estados é perigosa, pois em momentos de crise nacional ou internacional os
estados produtores seguram a produção do milho para abastecer o mercado
interno. Nesse aspecto, entendo que o Amazonas precisa se orientar no ZEE (Zoneamento
Ecológico Econômico) e no ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) para
cultivar o milho em nosso solo e garantir a soberania alimentar local.
Estrutura da SEPA e
Comercialização
Outro fato
que merece atenção e reflexão diante do desafio de atingir 100 mil toneladas de
pescado/ano é a atual estrutura da secretaria executiva estadual de pesca e
aquicultura, comandada pelo competente técnico Geraldo Bernardino, Ivo Calado e
toda sua equipe de auxiliares e técnicos. No meu entendimento, reforçar essa
equipe seria o primeiro e mais importante passo a ser dado pelo Amazonas Rural.
Também tenho observado que alguns grupos formais localizados nos municípios de
Benjamin Constant, Careiro da Várzea, Tefé e Silves estão tendo dificuldades na
comercialização do pescado. Além do alto custo da ração, a produção pode estar
excedendo o consumo local. A concorrência com a pesca artesanal em algumas
épocas do ano (safra) e, também, a inexistência de beneficiamento e o
escoamento para os municípios vizinhos e para Manaus são entraves
identificados. Por meio do Programa de Aquisição de Alimentos do Governo
Federal, integrante dos Programas Fome Zero e do Combate à Extrema Pobreza, a
Conab vem recebendo propostas das
associações que estão passando por entraves no momento de negociar a
produção e comprando o tambaqui curumim com preços variando entre R$ 3,80kg e
R$ 4,00kg. O PAA é justamente para esses momentos difíceis, mas jamais poderá ser
considerado como destino único das atividades produtivas. Dos municípios listados,
Benjamim Constant (já no terceiro projeto do PAA) e Careiro da Várzea (ao lado
do maior centro consumidor/Manaus) são, no meu entendimento, os que merecem uma
análise mais aprofundada do setor a fim de identificar os verdadeiros
obstáculos enfrentados pelos piscicultores no momento da venda.
Heveicultura no Amazonas
Este foi
outro grande tema debatido no seminário da FAEA e brilhantemente apresentado
pelo professor Verano Heron Junior. É sabido que o Brasil é um grande
importador de borracha e que o extrativismo não será capaz de atender a demanda
interna em curto tempo mesmo recebendo subvenção do governos federal, estadual
e municipal. Pelo que ouvi do professor Verano é perfeitamente possível plantar
seringueiras nas terras degradadas do Amazonas, mas a pergunta que faço é a
seguinte: Será que o governo que vai apoiar uma atividade que só começa a gerar
renda após 6 (seis) anos, uma vez que os mandatos são de quatro anos? Felizmente
de Palmas, no estado de Tocantins, vem um bom exemplo de ação de longo prazo. Notícia
divulgada no site do MDA diz que, em Tocantins, o cultivo de seringueiras será implantado em
áreas degradadas nos assentamentos, utilizadas no passado para a produção
agrícola ou pastagem, com o objetivo de assegurar o reflorestamento dessas
terras e o desenvolvimento de outra atividade econômica como fonte de renda. A
iniciativa busca estimular os agricultores assentados a plantar dois hectares
com seringueiras para a produção de látex. Os interessados vão receber
capacitação, assistência técnica, crédito e ações de apoio à comercialização. A
produção de borracha tem início sete anos após o plantio das seringueiras, com
expectativa de extração de três a quatro toneladas de látex por hectare. Hoje,
o custo de implantação do projeto é de R$ 15 mil por hectare e a expectativa de
renda é de dois salários mínimos mensais por hectare, durante a fase de
extração. Os agricultores interessados podem utilizar linha especial do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Eco
Seringueira) para financiamento do cultivo, com concessão de até R$ 80 mil por
mutuário e juros de 2% ao ano.
Cadastro Ambiental Rural (CAR)
A apresentação do presidente do IPAAM, Ademir
Stroski, e da técnica Silvana Pimental, foi bastante esclarecedora, contudo, achei
que o processo de adesão ao CAR tem certa complexidade para o produtor rural e
pode comprometer, mesmo com parcerias importantes, a necessária e indispensável
abrangência.
30.10.12
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com