quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Guilherme Pessoa esclarece assunto abordado no evento da OCB e FAEA


Ontem, durante evento promovido pelos Sistemas OCB e FAEA que debateu com os candidatos José Melo, Marcelo Ramos, Chico Preto e Eduardo Braga os entraves e soluções para o setor primário do Amazonas, surgiu um questionamento elaborado pelo público presente que me chamou atenção. Foi durante a apresentação do candidato Eduardo Braga que optou por escolher e responder, aleatoriamente, algumas das inúmeras perguntas direcionadas ao candidato. Depois da leitura da pergunta, feita pelo próprio candidato sem identificar o autor, o amigo, e servidor exemplar do MAPA/SFA (Guilherme), que acompanhava tudo ao meu lado, me disse que ele tinha feito o questionamento. Pela importância do assunto para nossa soberania alimentar e por ser extremamente técnico pedi ao Guilherme de Melo Pessoa a gentileza de detalhar a pergunta, comentar a resposta e expor seu entendimento sobre o assunto. Agradeço ao amigo Guilherme em atender o pedido.
Conheça. abaixo, a esclarecedora manifestação do Guilherme:

"Considerando a iminência do Brasil se tornar livre de Febre Aftosa, a  restrição que o mercado internacional (principalmente Europa e Estados  Unidos) de carnes hoje impõe ao nosso país não mais existirá. Assim,  corre-se o risco de que os Estados fornecedores deste insumo ao
Amazonas, desviem suas vendas para o mercado internacional, que remunera  muito melhor o produto. Como o Amazonas não é autossuficiente na produção de carne, sempre
dependeu da oferta dos estados vizinhos. Neste contexto, podemos sofrer uma falta de fornecimento deste item ao  Amazonas, além de repentino acréscimo do preço final ao consumidor (para o produtor, isso não deixa de ser boa notícia). O que fazer ante a esse cenário que desponta?"

OBS: O Senador Eduardo respondeu que a saída é o aumento da  produtividade no campo, com calcário, pasto rotacionado, etc. Sem dúvida, o caminho é esse sim. Todavia, o seu enfrentamento é complexo.

Vejamos: - Sem considerar a carne advinda de outros estados: Nosso rebanho hj é de aproximadamente 1 milhão e trezentas mil cabeças. Nós, profissionais da Produção Animal trabalhamos com um índice chamado  Taxa de Desfrute, que é o quantitativo do total do Rebanho que é renovado anualmente. Essa renovação se dá pela morte de animais e pelo abate. Em pecuárias desenvolvidas, a taxa de desfrute anual é de
aproximadamente 35-40%. No Brasil, por vários anos, tínhamos um desfrute de 10%. Hoje, acredito que no Amazonas o índice esteja em torno de 18-20%. Não existem dados
oficiais, infelizmente. Ora, com uma taxa de mortalidade de 3-5%, nos restaria como desfrute
12-15% (adotemos 15% para efeito de cálculo). De um total de 1,3 milhão, abatemos em torno de 195 mil cabeças, entre machos e fêmeas. A média de abate do rebanho amazonense é baixa. Algo em torno de 150-160 kilos de carcaça (em média!!!). Isso dá 29.250 toneladas de carne por ano. Dividido por 3,8 milhoes de habitantes do estado, dá oferta per capita
de 7,69 kg por habitante. A média nacional em 2008 era de 37 kg. Em 2014  é de 41 kg.

Esse número de consumo de carne bovina per capita ainda não é o  definitivo, porque não levei em conta a carne que chega ao Amazonas dos outros estados. Mas até aqui, os dados são confiáveis. Ou seja, sem a carne dos outros estados, ficaremos com uma oferta
baixíssima, como demonstrei acima. Ainda que tenhamos um enorme consumo de carne de peixe.

Conclusão:
É necessária uma política pública muito efetiva e séria para não  sofrermos déficit de oferta de carne, uma vez que nossa produção está muito aquém do necessário para atingirmos os índices nacionais de  consumo per capita.

Analisarei alguns cenários de Gestão do Setor:

3.800.000 de habitantes, consumindo em média 20,5 kg de carne ano  (metade da média nacional, considerando o grande consumo de pescado) =  necessidade de 77.900.000 kg de carne/ano. Dividindo esse valor pela média do peso das carcaças de bovinos (150 kg), chegamos à necessidade de abate de 519.333,00 animais. (hj o número é de menos de 200 mil cabeças). Considerando que o desfrute é de 15%, conforme critério anterior, precisaremos de um efetivo de rebanho de aproximadamente 3.458.757 animais. Aproximadamente o triplo do rebanho atual. Mas estou trabalhando com índices ruins de produtividade.

Se a medida da carcaça do Amazonas fosse de 250 kg, ao invés dos 150 utilizados, precisaríamos de um rebanho total no estado de 2.075.256 animais para atender à demanda, considerando um consumo anual de 20,5 kg de carne. Se melhorar a taxa de desfrute para 35%: 1.300.000,00 cabeças x 35% = 455.000 animais abatidos x 250 de carcaça =
113.750.000 kg de carne. A demanda estadual é de 77.900.000 kg (consumo per capita de 20,5 kg). Sobrariam 35.850.000 kg para exportar. Se usarmos um rebanho de aproximadamente 3,5 milhões de cabeças: 3.500.000 cabeças x 35% = 1.225.000 animais abatidos x 250 de carcaça =
306.250.000 kg de carne. A demanda estadual é de 77.900.000 kg (consumo per capita de 20,5 kg). Sobrariam 228.350.000 kg de carne (x R$ 8,00 * o kilo médio da carcaça
= R$ 1.826.800.000,00 - quase dois bilhões de reais). * preço praticado no mercado local

Ou seja, se tivéssemos uma produtividade de 250 kg de carcaça por animal, em um rebanho de 3,5 milhões de cabeças, com taxa de desfrute de 35%, seríamos exportadores de carne!
A pecuária tecnificada e bem gerida é um excelente negócio! E sem a necessidade de derrubar floresta, pois os campos já abertos, desde que reformados, comportam o efetivo sugerido, gerando muito dinheiro ao produtor e ao estado do Amazonas.


Grande Abraço,
Guilherme de Melo Pessoa

DDA/SFA-AM

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