segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

(PARÁ) Extrativistas agora negociam direto com o cliente

Espero que na reforma que está sendo anunciada pelo governador reeleito José Melo, a ADS tenha uma ação mais forte/focada na busca de novos mercados para nossos produtos regionais. Já perdemos a fábrica da NATURA para o Pará. Agora, mais uma vez, a matéria publicada no site da CNA fala em óleos adquiridos por empresa suíça também no Pará. Já a fábrica da FIRMENICH está montada em COTIA-SP. Falando em ADS, espero que seja confirmado o boato de seu retorno ao Sistema SEPROR. Assim como fico torcendo para que não ocorra a fusão com a ADAF que será, no meu ponto de vista, um grande retrocesso. 

Marina Gazzoni


O extrativista Pedro Pereira de Castro, nascido e criado na reserva de Riozinho do Anfrísio, na região conhecida como Terra do Meio, no Pará, começou a vender óleo de copaíba em um carrinho de mão para atravessadores da região, que revendiam o produto em Altamira. Hoje, a relação comercial mudou: ele é um dos fornecedores que vende o óleo diretamente para a multinacional suíça Firmenich, fabricante de fragrâncias para a indústria de cosméticos e sabores para a de alimentos, presente em mais de 60 países e com escritório em Cotia (SP). 

Para o negócio entre os produtores locais e a multinacional se concretizar, as duas partes tiveram de fazer drásticas adaptações no padrão comercial e produtivo. Pelo modelo comercial, acooperativalocal reúne o óleo dos "copaibeiros" e vende em lotes de 500 kg para a empresa. Parafazer o modelo dar certo, a Firmenich teve de oferecer aos fornecedores amazônicos uma linha inicial de capital de giro. "Nem sabia o que era capital de giro. Para mim, a única coisa que girava era bola", lembra Castro, hoje gestor de recursos na cooperativa. 

Antes de comprar das comunidades amazônicas, a Firmenich tinha um fornecedor em Manaus para o óleo decopaíba. "Fazia um telefonema a cada seis meses e recebia o óleo na minha fábrica em São Paulo. Pagávamos em 60 dias e podíamos devolver se a qualidade não fosse adequada. Era muito mais fácil", lembra André Tabanez, gerente de projetos para ingredientes e de sustentabilidade da Firmenich. 

O problema é que, às vezes, o fornecedor simplesmente desaparecia. Isso ocorriaquando ou-tras culturas, como a castanha, eram mais rentáveis do que a copaíba. Tabanez também estava preocupado com a origem do produto comprado. "Enxergamos isso com um risco. Podíamos, por exemplo, comprar sem saber um produto tirado em áreas desmatadas." 

Comércio justo


A companhia decidiu comprar óleo de copaíba e cumaru diretamente de produtores amazônicos para fugir de incertezas relacionadas à venda dos produto spor atravessadores e, ao mesmo tempo, garantir regularidade das entregas. "Isso nãoéfilantropia. Fizemos um modelo de comércio justo, que beneficia tanto a empresa quanto a comunidade." 

O primeiro desafio da Firmenich foi encontrar as comunidades que produziam o produto. "Meu antigo fornecedor não dizia de quem comprava. Não tinha ideia de como chegar a essas comunidades", conta Tabanez. A solução foi recorrer às ONGs para descobrir quem extrai copaíba e cumaru no Brasil. 

Uma das ONGs que ajudou a Firmenich na empreitada foi o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), coordenadora do projeto Florestas de Valor, que tem o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável em três regiões do Pará. "Queremos desenvolver uma nova economia, que promova o comércio justo e sustentável entre empresas e comunidades em área protegidas", disse o gerente de projetos dos Imaflora, Roberto Palmieri. 

Olmaflora construiu um pacto comunitário, documento apresentado na última quinta-feiraem seminário sobre agroe-cologia e mercado ético naAma-zônia, em Alter do Chão (PA). Esse pacto estabelece regras para a negociação entre empresas e comunidades amazônicas, como a igualdade de forças nas negociações e a prática de preço justo. "Esse modelo pode ser replicado em toda a Amazônia. Hoje existem 65 mil famílias vivendo nas unidades de conservação federais.As áreas protegidas também foram criadas para o uso pelas comunidades locais", disse Palmieri. 

Para a comunidade, o acordo trouxe uma compensação financeira. Antes, o atravessador pagava R$ 10 por litro de copaíba na Terra do Meio, enquanto a Firmenich paga R$ 27. Na região da Calha Norte, outra das seis comunidades amazônicas que vendem para a multinacional suíça, a parceria também gerou aumento de renda. "O copaibeiro vem do mato, entrega o óleo e sai com dinheiro para as compras da casa", diz Antonio Marcos Duarte Salgado, presidente da Associação dos Moradores de Curuçá Mirim, na região da Calha Norte. 

Tabanez explica que, apesar do produtor ganhar mais, nem sempre a empresa paga valores maiores, já que os atravessado-res são eliminados. Mesmo com o adicional de preço, o executivo entende que a garantia de entrega torna a parceira vantajosa.

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