terça-feira, 3 de setembro de 2013

(Artigo) - "Reflexões sobre a cadeia de fibras no AM" (1 Parte)

* Artigo publicado no Jornal do Commercio na edição de 03.09.12

AGRONEGÓCIOS

Reflexões sobre a cadeia de fibras no AM (1 Parte)

Novos dados ligados à cadeia de fibras (malva e juta) foram divulgados na última semana. Um deles foi disponibilizado pelo servidor estadual Zacarias Gondin, meu amigo e profundo conhecer da realidade dos juticultores, informando os números finais da produção de fibras no Amazonas. Alcançamos 6.571 toneladas negociadas com a Jutal, Cooperjuta, Coomapem, Cooperfibras e CTC. A outra notícia veio de Brasília, do analista Ivo Naves/Conab, confirmando os preços mínimos para a próxima safra/2014 (R$ 1,96 kg fibra embonecada e R$ 2,17 kg fibra prensada). Essas informações me levaram a refletir sobre o que houve e o que estar por vir. A safra encerrada foi marcada por fatos que desanimam todos os elos da cadeia em continuar a atividade no Amazonas. Entre eles, destaco o baixo preço recebido pelo juticultor; a inexistência de armazéns públicos (os atuais estão comprometidos com a estocagem de alimentos para indígenas, quilombolas, emergências e, ainda, para estocagem de milho para os criadores rurais); inexistência de armazéns privados (não possuem a certificação exigida pelo MAPA); importação de matéria prima que prejudicou a indústria nacional; a lentidão estadual para o pagamento da subvenção; conflituosa distribuição de sementes e o lamentável incêndio ocorrido no armazém da Coomapem. Pra não perder o ano, entendo que a maior participação do Amazonas no Comitê Nacional de Fibras Naturais, a reorganização do Comitê Estadual e a divulgada compra de sacaria biodegradável pela Conab para utilização no estoque público ainda nos levam a acreditar no futuro dessa atividade em nosso estado. É bom ressaltar que a inexistência de armazéns privados certificados impediu a compra da produção pelo Governo Federal (PGPM/AGF). É verdade, também, que somente após o término da presente safra o MAPA estendeu a exigência da certificação para o próximo mês de janeiro/2014. A seguir, alguns comentários sobre armazenagem.


12 anos atrás, extinção dos armazéns

Em 12 de novembro de 2001, passados 12 anos, e dois anos antes do presidente Lula assumir, o jornal Em Tempo estampava em primeira página a seguinte manchete “Conab fecha suas portas. Estatal desativa o último armazém no Amazonas”. Naquela altura, somente o Dr. Eurípedes Lins, representando o Sistema FAEA/SENAR, e os servidores da Conab lutaram, e muito, para que isso não viesse a ocorrer. Nessa mesma edição tem uma foto que registra toda essa luta. Lá estava eu, Cleto, Raimundo, Armando, Ferreira e Beto lutando para a Conab não acabar. Evitamos a extinção, mas perdemos quase que a totalidade das nossas Unidades Armazenadoras. Esse fato mexeu muito comigo, pois foi meu pai, Ubaldino Meirelles, que, em 1982 (32 anos atrás), na condição de deputado federal, conseguiu sensibilizar o ministério da Agricultura a investir na construção de vários armazéns na capital e interior. Enfim, chegava a hora de o Amazonas pensar na soberania alimentar de seu povo. Infelizmente, nada aconteceu!


Desde 1982, o estado não fez sua parte

Lembro ainda muito bem, mesmo passados 30 anos (tinha apenas 20 anos), começando a vida profissional, o que mais ouvia era a seguinte frase “O Amazonas não produz alimentos básicos porque não tem onde beneficiar e armazenar”. Bem, naquela altura a alegria era grande, pois chegava a hora e a oportunidade de o Amazonas pensar na soberania alimentar de seu povo. Infelizmente nada aconteceu, e a história não nega. Os armazéns vieram, mas não foram suficientemente utilizados, o estado não fez sua parte, e até hoje não acredita no potencial do setor. Com isso, a luta incansável do Dr. Eurípedes Lins e dos servidores da Conab para manter as unidades armazenadoras não teve êxito. Desde então, e mais fortemente nesta coluna do centenário JC, venho sempre alertando para a questão da importância da armazenagem no Amazonas. Na coluna da próxima semana volto a falar nesse tema para apresentar algumas propostas.

Faltam direção e aproximação política

O comando maior do estado e a classe política local ainda não acreditam que o setor agropecuário local pode substituir o modelo econômico do Polo Industrial de Manaus, nem dedicam tempo para esse fim. Reconheço avanços positivos no setor primário, mas pontuais e insuficientes, privilegiando poucos, em detrimento da expressiva maioria dos amazonenses. Na homenagem ao Dia do Agricultor, o plenário da assembleia contava com apenas três deputados estaduais e nenhum da área federal. Na última semana, quando o assunto foi a prorrogação dos incentivos do PIM/ZFM tínhamos quase toda a bancada federal, vice-governador e vários estaduais no plenário. No meu entendimento, as presenças aos dois eventos demonstram claramente que o setor rural não desperta interesse. Será que a culpa não é nossa? Será que não estamos sabendo articular esse apoio? O Vizolli tem sempre dito que essa distância precisa ser menor. Concordo plenamente com o presidente do IDAM. O professor José Melo, vice-governador, em discurso na ALEAM, disse, fazendo referência ao modelo da ZFM/PIM que o Amazonas é um homem forte, mas com uma perna só (é fácil pegar uma rasteira de São Paulo) e que não aproveitamos as potencialidades sustentáveis para diminuir essa dependência do PIM. Essa afirmativa é a pura verdade, mas qual a razão de não ouvir mais atentamente o setor primário local? Repito, será que o problema é nosso?  É bom refletirmos! Minha querida mãe Nazaré, parabéns pelos seus 76 anos, muito obrigado pelo que já fez, faz e ainda fará por mim e pela nossa família. Te amo muito!

 

03.09..2013

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário