Por PAULA VIEIRA
Com o desafio de apoiar o agricultor familiar do
interior do Amazonas a adotar inovações tecnológicas resultantes de pesquisa da
Embrapa, mais de 50 técnicos de 30 municípios do Amazonas estão sendo preparados
para atuar nos projetos das linhas temáticas de Fruticultura, Pecuária
Sustentável e Produção de Borracha Natural, no Programa Estratégico de
Transferência de Tecnologias para o Setor Rural Pró Rural/ Residência Agrária.
Esses técnicos participam de capacitações promovidas pela Embrapa Amazônia
Ocidental durante esta semana, de 24 a 28 de março.
O chefe-geral da Embrapa Amazônia Ocidental, Luiz
Marcelo Brum Rossi, durante a abertura das capacitações, destacou que com esses
projetos do programa Residência Agrária, a Embrapa vai poder expandir sua
capacidade de ação em quase todos os municípios do Amazonas. A Embrapa coordena
quatro projetos no Pró Rural/Residência Agrária, que juntos são responsáveis por
ações de transferência de tecnologias em 45 dos 62 municípios do Estado,
envolvendo 75 técnicos bolsistas. Luiz Marcelo agradeceu o apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), da Secretaria de Estado de
Produção Rural (Sepror-AM) e da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação
(Secti-AM), que são as financiadoras do Programa, e do Instituto de
Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam), que é
parceiro no apoio aos técnicos bolsistas.
Os projetos são direcionados a levar ao produtor
inovações tecnológicas geradas pela pesquisa e socializar esses conhecimentos
para apoiar a produção rural. Quem faz essa mediação com o produtor são os
técnicos extensionistas, bolsistas dos projetos, que passam a residir no
município e realizar atividades de assistência técnica em temas específicos do
projeto, em parceria com o Idam. Os técnicos são profissionais recém-formados em
cursos, de níveis médio e superior, das ciências agrárias.
Representando a Fapeam na abertura do evento,
Renata Veiga, gerente do Núcleo de Apoio dos Programas de Inovação, destacou que
o Pró-Rural/ Residência Agrária veio criar a oportunidade para que os
conhecimentos gerados pela pesquisa científica cheguem ao produtor rural.
Como funciona ? Pelas metas de cada projeto, cada
técnico bolsista irá prestar assistência técnica a 100 produtores por ano,
utilizando as inovações tecnológicas, os conhecimentos recebidos nas
capacitações, e considerando ainda os conhecimentos locais dos produtores.
Em cada município os conhecimentos e tecnologias
são demonstrados de forma prática, em áreas de produtores. Através de cada
projeto, a Embrapa passa a demonstrar as tecnologias nos municípios de sua
abrangência com a implantação de áreas demonstrativas, chamadas de Unidades de
Construção do Conhecimento Coletivo-UCCC (no caso da agricultura) ou Unidades de
Referência Tecnológica-URT (no caso da pecuária), que servem como instrumento
didático para apresentar as recomendações técnicas de cada sistema de produção e
promover capacitações sobre as inovações tecnológicas aos produtores
interessados.
Em alguns municípios já começou a implantação
dessas Unidades. É o caso dos municípios de Borba, Manacapuru, Presidente
Figueiredo e Parintins, que já contam com Unidades de Pecuária Sustentável.
Outros 21 municípios contam com Unidades de Construção do Conhecimento Coletivo,
em plantios de feijão-caupi, mandioca e milho, apresentando tecnologias pelo
projeto coordenado pela Embrapa ?Estratégias de Socialização e Transferência de
Conhecimentos para Adoção de Inovações Tecnológicas nas Culturas Alimentares
pelos Agricultores Familiares do Amazonas?. Esse projeto iniciou as atividades,
no ano passado (2013). A capacitação dos 21 técnicos bolsistas deste projeto
ocorreu em setembro, em dezembro iniciaram os plantios e, como são culturas de
ciclo curto, a colheita está prevista a partir de maio deste ano.
Nas capacitações dos projetos de Fruticultura,
Produção de Borracha natural e Pecuária Sustentável, os técnicos extensionistas
estão recebendo informações técnico-científicas e orientações sobre as
atividades a serem desenvolvidas pelos projetos em cada município.
Fruticultura
A Capacitação Técnica em Fruticultura iniciou dia
24 e acontece até dia 28 de março, abordando temas como contextualização da
fruticultura no Amazonas, extensão e desenvolvimento rural; processos de
desenvolvimento e participação; matéria orgânica do solo; interpretação de
análise de solo e plantas; e informações técnicas sobre as culturas da
bananeira, cupuaçuzeiro, cacau, açaí, maracujá, abacaxi, mamão e boas práticas
na fabricação de polpas. O projeto tem o enfoque em inovações tecnológicas para
fruticultura na agricultura familiar e abrange 13 municípios: Careiro da Várzea,
Silves, Codajás, Novo Aripuanã, Lábrea, Coari, Tabatinga, Atalaia do Norte, São
Sebastião do Uatumã, Anori, Iranduba, Urucurituba e o distrito de Novo Remanso,
em Itacoatiara. Na capacitação participam 19 instrutores, incluindo
pesquisadores e técnicos da Embrapa, do Idam e da Comissão Executiva do Plano da
Lavoura Cacaueira (Ceplac).
O pesquisador da Embrapa, Gilmar Meneghetti,
coordenador do projeto ?Transferência de tecnologia e estratégias de
socialização do conhecimento para a agricultura familiar: inovação na
fruticultura do Estado do Amazonas?, explica que a adoção das inovações
tecnológicas apresentadas sobre essas culturas possibilitam ganhos
socioeconômicos, como o aumento da produtividade e da oferta de matérias primas
para as agroindústrias, a elevação da renda dos agricultores, a melhoria da
alimentação e da qualidade de vida das populações rurais. No aspecto ambiental,
também permitem o aproveitamento de áreas já desmatadas, recuperando-as para
cultivos e, também, aproveitando áreas de preservação para o manejo e extração
de frutas nativas.
Pecuária Sustentável
A capacitação do projeto ?Transferência de
Conhecimentos para Adoção de Inovações Tecnológicas que promovam a Pecuária
Sustentável no Amazonas? vai até dia 27 de março e envolve 20 técnicos
(agrônomos, zootecnistas, veterinários e técnicos em agropecuária).
O coordenador do projeto, pesquisador da Embrapa,
Jasiel Nunes, explica que para que a pecuária se torne mais sustentável no
Estado, se pretende incentivar o uso da tecnologia de integração
Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) para recuperação de áreas de pastagens
degradadas. Com isso, pode se ter a produção de grãos (milho e feijão) e
madeira, com consequente diminuição dos custos de recuperação de pastagens, mais
a alternativa de diversificar produtos na propriedade rural e elevação da renda
familiar. O sistema iLPF é uma estratégia de produção sustentável que integra
sistemas agrícolas, pecuária e floresta, baseado na adoção de práticas
conservacionistas, como o plantio direto, a rotação e a sucessão de culturas, o
consórcio de espécies, o manejo animal e a produção de forragens, madeiras,
fibras e frutos. Os 14 municípios contemplados neste projeto são Boca do Acre,
Apuí, Borba, Manicoré (e o distrito de Matupi), Lábrea (com ações no sul do
município), Autazes, Careiro da Várzea, Itacoatiara, Urucará, Nhamundá,
Barreirinha, Parintins, Presidente Figueiredo e Manacapuru.
Produção de Borracha Natural
A capacitação sobre ?Uso das novas técnicas de
enxertia, sangria, coleta e armazenamento da borracha natural? envolve técnicos
que atuam nos municípios contemplados pelo projeto ?Novas tecnologias para
dinamização da produção da borracha natural no Amazonas”. Os municípios são Boca
do Acre, Borba, Canutama, Carauari, Coari, Eirunepé, Fonte Boa, Humaitá,
Iranduba, Itacoatiara, Juruá, Jutaí, Lábrea, Manacapuru, Manicoré, Maués, Novo
Aripuanã, Pauini, São Gabriel da Cachoeira e Tabatinga. O coordenador,
pesquisador da Embrapa, Everton Cordeiro, informa que as novas tecnologias que
serão compartilhadas pelo projeto têm o potencial de incrementar a produção de
borracha natural no Amazonas, melhorando a vida do seringueiro com os plantios
de seringueiras tricompostas resistentes ao mal das folhas, doença que prejudica
o cultivo na região de floresta tropical úmida. A capacitação se estende até 26
de março.
Alcance do Programa
Ao todo, o programa Pró-Rural/Residência Agrária
conta com 170 técnicos bolsistas em 10 projetos, dos quais quatro estão sob a
coordenação da Embrapa, e os demais com a Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), o Instituto Federal de Ciência e Tecnologia (Ifam) e o Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Atingindo a meta de 300 produtores
atendidos pelos técnicos de todos os projetos espera-se atingir mais de 50 mil
agricultores em três anos, nos 62 municípios do Amazonas.
Alguns resultados imediatos já podem ser notados,
conforme destaca a coordenadora do Programa Residência Agrária, da Sepror,
Alíria Noronha. Em termos quantitativos, ela ressalta o aumento de pessoal que
trabalha em assistência técnica e extensão rural no interior do Estado, pelo
acréscimo de 170 técnicos, além dos 300 técnicos do Idam. Em termos
qualitativos, a coordenadora relaciona que o programa está viabilizando que
tecnologias geradas pelos centros de pesquisa sejam experimentadas pelos
produtores. Alíria destacou, por exemplo, o projeto Culturas Alimentares, um dos
coordenados pela Embrapa, que leva conhecimentos e tecnologias de baixo custo e
fácil implantação que podem ajudar o agricultor familiar a melhorar sua produção
de feijão-caupi, milho e mandioca. ?Com tecnologia de fácil implantação, os
agricultores não ficam dependentes dos técnicos?, acrescenta.
A coordenadora destacou que os princípios que
orientam o Programa Pro-Rural/Residência Agrária visam à melhoria de vida da
população rural, o desenvolvimento sustentável, a economia solidária, a
agricultura familiar como unidade de ação, a transferência de tecnologias para
ampliar a renda e a valorização da cultura da população rural, entre outros.
Fonte: Embrapa
Nenhum comentário:
Postar um comentário