A cadeia produtiva da juta/malva tem grande
capacidade de geração de empregos no campo e na cidade. Especificamente no
estado do Amazonas, a produção de fibras foi por um longo período a atividade
responsável por expressivo percentual na formação da renda do estado, pois o
valor de sua cultura representava 20% da renda do setor primário que empregava
51% da população amazonense deste setor, segundo dados do Instituto de Fomento
à Produção de Fibras Vegetais da Amazônia (IFIBRAM) de 1976. Contudo, hoje, não
queremos falar do passado, a importância desse setor já está registrada nos
anais da história. Hoje, queremos falar do futuro, queremos apresentar aqui
propostas para a solução dos problemas atuais dessa cadeia produtiva.
Uma das possibilidades para o crescimento da produção
de juta e de malva na Amazônia seria a criação de demanda interna para os
produtos confeccionados com essas fibras, como faz o estado indiano de Bengala
Ocidental, que possui legislações específicas para a utilização de embalagens, leis
que tornam obrigatória a utilização de sacos de juta para embalar as principais
commodities produzidas no estado. Com
a publicação do Essential Commodities
Act, de 01 de abril de 1955 e a Jute
Packaging Materials Act, de 9 de maio de 1987, produtos como açúcar, arroz,
trigo, batatas, dentre outros, tem que ser embalados em sacos de juta. Mesmo
com as mudanças na lei das commodities
essenciais que ocorreram em 2012, que consistiu em uma flexibilização das
porcentagens de obrigatoriedade do uso de sacos de juta para embalar
determinados produtos, como o açúcar, por exemplo, que caiu de 100% para 90% de
obrigatoriedade, essa proteção, por meio de legislação, ainda é muito
importante para a indústria indiana de juta e, consequentemente, para os
produtores também.
É preciso
apostar na diversificação dos produtos por parte das indústrias, não se pode
viver apenas da produção de sacarias. O governo e as indústrias de Bangladesh e
de Bengala Ocidental já perceberam a necessidade dessa mudança e estão
investindo em novos produtos, desenvolvendo novos tecidos e compostos de juta. Isso
permitirá com que as indústrias não fiquem reféns da produção agrícola que,
mesmo com todo avanço tecnológico dos últimos anos, ainda é bastante dependente
das condições climáticas.
Por entendermos
que não é prudente o abandono de uma atividade produtiva extremamente adaptada
à várzea amazônica, e por termos a convicção, baseado em dados teóricos e
empíricos de que as fibras de juta e malva são produtos de baixa entropia, produtos
que geram externalidades positivas e com grande potencial de mercado, recomendamos:
1)
Providenciar
o salvamento do material genético da juta, que está totalmente abandonado, ou
quiçá, já perdido no município de Alenquer/PA. Se, porventura, no futuro,
houver a necessidade destas sementes, já aclimatadas, não será possível efetuar
a sua recuperação.
2) Investimentos em
C&T nas áreas
de botânica, genética e química, visando ao melhoramento genético da juta e da
malva; o desenvolvimento de novas técnicas de maceração controlada e
descorticamento mecânico, visando no futuro, à montagem de pequenas centrais de
produção de fibras feitas pelas próprias comunidades produtoras.
3)
Ampliação
das políticas públicas para o setor, como a subvenção, distribuição de
sementes, garantia de compra da safra e preço mínimo;
4)
Estabelecimento
de parcerias com órgãos indianos que desenvolvem pesquisas relacionadas ao
melhoramento genético da cultura da juta e de outras plantas têxteis como Central Research Institute for Jute and
Allied Fibres (CRIJAF) de Calcutá, visando ao desenvolvimento de outros
produtos feitos a partir das fibras de juta e de malva ou com porcentagem delas
adicionadas no processo;
5)
Melhoria
dos dados estatísticos relacionados à cadeia produtiva, para que se possa ter números
confiáveis a respeito da produção;
6)
Apoio irrestrito
às Cooperativas locais;
7)
Políticas
de proteção ao setor que visem diminuir ou impedir a importação de juta bruta e
seus derivados, como leis antidumping;
8)
Manutenção
e ampliação das políticas de Aquisição do Governo Federal (AGF).
Uma
revitalização ampla do setor de aniagem no estado do Amazonas e Pará só poderá
ser possível, se forem consideradas as experiências positivas e negativas do
passado, estabelecendo um diálogo horizontal e vertical entre trabalhadores,
empresários e governo, além de investimentos em tecnologias que eliminem ou
reduzam ao máximo a parte do processo de trabalho feito dentro da água, que organize
e diversifique a cadeia produtiva a partir, fundamentalmente, da abertura de
novos mercados e desenvolvimento de novos produtos.
Nesse processo, o Estado tem que ser o grande agente
fomentador, como fez e faz há décadas o Estado indiano. É necessário, portanto,
o resgate do modelo de agroindústria, como aquela que existiu em Parintins a
partir da década de 1960 até a década de 1980. A Fabriljuta S.A. chegou a
funcionar em três turnos, com cerca de 400 funcionários empregados diretamente.
A cidade de Parintins viveu nesse período, uma realidade encontrada somente no
Sul e Sudeste dos dias atuais, no que tange ao sistema de agroindústria.
Concluímos recomendando o resgate da utopia. Com efeito, utopia não no sentido do senso
comum, que a define como algo inatingível, irrealizável, quimérico, mas no
sentido dado pelo filosofo alemão Ernest Bloch (1885-1977). Para Bloch, a utopia não é algo irrealizável, quimérico,
mas uma esperança. Esta por si só não garante o surgimento do novo, todavia deve
ser baseada em um processo transformador, que ele identifica como o otimismo
militante. O Novum, assim,
deixa de ser algo puramente esperado, numa atitude cômoda de aguardar, mas é
buscado com afinco, através do esforço
construtor, por algo que valha realmente a pena fazer. Precisamos de um “esforço construtor” para o resgate da
produção de fibras na Amazônia”.
Aldenor
da Silva Ferreira
Sociólogo. Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul
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