segunda-feira, 29 de abril de 2013

Artigo - Novos Avanços e Velhos Problemas

Publicado no Jornal do Commercio, no dia 23/04/2013

AGRONEGÓCIOS

Novos Avanços e Velhos Problemas

Revendo o acervo fotográfico do meu pai, Ubaldino Meirelles, que espera contar, em livro, sua história pessoal e profissional, encontrei uma foto dele e do saudoso Eurípedes Lins chegando ao município de Autazes para a primeira ação itinerante da previdência social do Amazonas. Só em lembrar esse caboclo de Fonte Boa fiquei imaginando como ele ficaria feliz em saber que o Governo Federal, por meio da Conab, passará a comprar sacaria biodegradável (juta e malva) para utilização no estoque público. Isso é, no meu entendimento, uma das maiores conquistas para a cadeia produtiva de fibras naturais (malva/juta) com reflexos expressivos nas áreas social, econômica e ambiental. O anúncio ocorrido, em Manaus, durante a última reunião da Câmara Setorial Nacional de Fibras Naturais não teve, no meu ponto de vista, a devida repercussão na mídia local e nacional. Espero que ainda tenha, pois é um grande exemplo de sustentabilidade que a presidenta Dilma, o MAPA e o conselho diretor da Conab estão dando ao mundo. O Voto do diretor Sílvio Isopo Porto destaca três importantes pontos. São eles: “que a Conab passe a utilizar no acondicionamento de produtos, preferencialmente, sacarias de fibras de juta e malva; que as aquisições de sacaria da indústria estejam condicionadas à comprovação de pagamento do preço mínimo da matéria prima ao agricultor e que o MAPA estude alguma forma de benefício ao usuário do Programa Vendas em Balcão visando estimular a reutilização da sacaria de juta e malva”. É importante ressaltar que tal decisão encontra respaldo na preocupação do Governo Federal expressa no Decreto n. 7.746 com a redução dos impactos ambientais.


Editorial de 08 de Setembro de 1985

Espero, sinceramente, que essa conquista histórica, que deve ser colocada em prática nos próximos meses, possa ser capaz de eliminar ou estimular que entraves históricos do setor possam ser superados. Durante a abertura da reunião da Câmara Setorial li, sem dizer inicialmente a data da publicação, o editorial de A Crítica cujo conteúdo contemplava problemas atuais, mas tinha sido escrito em 1985, quase trinta anos passados. Dizia o editorial: “...Mais uma vez a economia amazonense se vê ameaçada...não é a primeira vez que tais ameaças preocupam os homens responsáveis de nosso Estado...sofrendo a concorrência de produto estrangeiro...são conhecidas as dificuldades de ordem tecnológica que marcam profundamente o cultiva da juta e malva em nossa região. Também não tem escapada aos estudiosos as condições de sobrevivência dos juticultores, expostos a doenças irreversíveis e condenados a manter o mesmo nível de via, após anos e anos de atividade...necessitamos, diante desta nova ameaça, é de discussão séria e duradoura...só assim, não se repetirão as ameaças, que se tornam cíclicas, como o próprio cultivo das fibras...”. Este editorial foi registrado nos anais do Congresso Nacional, em sessão do dia 13.09.1985, pelo então deputado federal Ubaldino Meirelles.

 
Velhos Problemas

Quem acompanha o mercado sabe exatamente que a atual safra enfrenta conhecidos entraves, ou seja, os mesmos registrados no editorial de 1985. Neste artigo acrescento mais um, a falta de armazéns credenciados no MAPA que estão impedindo que a Conab faça AGF (Aquisição do Governo Federal). Entretanto, aproveito para mostrar que esse empecilho também não é recente e que eu já havia alertado os atores da cadeia dez anos atrás. Em 23/12/2003, nesta mesma coluna, publiquei o artigo intitulado “Armazenagem Deficiente”. Uma semana depois, ou seja, em 30/12/2003, foi a vez do artigo cujo titulo era  Cadastramento de Armazéns”. Nas duas publicações alertei que a estocagem de produtos agropecuários poderia ser problema no meu estado. Hoje, com a exigência da “certificação” para armazéns privados operarem com a Conab e a inconsequente venda (lutei muito para não ser concretizada, inclusive com registros na imprensa), no passado, de três armazéns da ex-cibrazem da capital o problema ficou ainda mais grave. Penso que fiz minha parte, e vou continuar lutando para dias melhores ao produtor familiar do Amazonas. Na recente conquista, a da compra de sacaria biodegradável pelo governo, espero que o reflexo positivo chegue ao bolso do juticultor, caso contrário, de nada adiantou tanta luta. Enquanto o governo estadual direcionar todo o poder político para a manutenção do Pólo Industrial de Manaus, os “velhos problemas” do setor primário do Amazonas continuarão causando transtornos aos “novos avanços” e aos “bons programas” do Governo Federal. É lógico que estamos tendo avanços no setor agropecuário local, mas são pontuais, e sem volume para substituir o modelo econômico do PIM. E não é difícil virar esse jogo, ficando livre dos ataques regulares de São Paulo ao modelo da ZFM. Basta colocar o CBA (Centro de Biotecnologia da Amazônia) em pleno funcionamento (dez anos parado) e dotar os Sistemas Sepror e SDS, principalmente o IDAM, de estrutura suficiente para executar as atividades de campo. Teremos criado um novo modelo econômico aproveitando as infinitas potencialidades regionais gerando empregos na capital e no interior, garantindo a soberania e segurança alimentar e aliviando o valor da cesta básica, uma das mais altas do país.

23.04.13

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

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