AGRONEGÓCIOS
Novos Avanços e Velhos Problemas
Revendo o acervo fotográfico do meu pai,
Ubaldino Meirelles, que espera contar, em livro, sua história pessoal e
profissional, encontrei uma foto dele e do saudoso Eurípedes Lins chegando ao
município de Autazes para a primeira ação itinerante da previdência social do
Amazonas. Só em lembrar esse caboclo de Fonte Boa fiquei imaginando como ele
ficaria feliz em saber que o Governo Federal, por meio da Conab, passará a
comprar sacaria biodegradável (juta e malva) para utilização no estoque público.
Isso é, no meu entendimento, uma das maiores conquistas para a cadeia produtiva
de fibras naturais (malva/juta) com reflexos expressivos nas áreas social,
econômica e ambiental. O anúncio ocorrido, em Manaus, durante a última reunião
da Câmara Setorial Nacional de Fibras Naturais não teve, no meu ponto de vista,
a devida repercussão na mídia local e nacional. Espero que ainda tenha, pois é
um grande exemplo de sustentabilidade que a presidenta Dilma, o MAPA e o
conselho diretor da Conab estão dando ao mundo. O Voto do diretor Sílvio Isopo
Porto destaca três importantes pontos. São eles: “que a Conab passe a utilizar no acondicionamento de produtos,
preferencialmente, sacarias de fibras de juta e malva; que as aquisições de
sacaria da indústria estejam condicionadas à comprovação de pagamento do preço
mínimo da matéria prima ao agricultor e que o MAPA estude alguma forma de
benefício ao usuário do Programa Vendas em Balcão visando estimular a
reutilização da sacaria de juta e malva”. É importante ressaltar que tal
decisão encontra respaldo na preocupação do Governo Federal expressa no Decreto
n. 7.746 com a redução dos impactos ambientais.
Editorial de 08 de Setembro de 1985
Espero, sinceramente, que essa conquista
histórica, que deve ser colocada em prática nos próximos meses, possa ser capaz
de eliminar ou estimular que entraves históricos do setor possam ser superados.
Durante a abertura da reunião da Câmara Setorial li, sem dizer inicialmente a
data da publicação, o editorial de A Crítica cujo conteúdo contemplava problemas
atuais, mas tinha sido escrito em 1985, quase trinta anos passados. Dizia o
editorial: “...Mais uma vez a economia
amazonense se vê ameaçada...não é a primeira vez que tais ameaças preocupam os
homens responsáveis de nosso Estado...sofrendo a concorrência de produto
estrangeiro...são conhecidas as dificuldades de ordem tecnológica que marcam
profundamente o cultiva da juta e malva em nossa região. Também não tem
escapada aos estudiosos as condições de sobrevivência dos juticultores,
expostos a doenças irreversíveis e condenados a manter o mesmo nível de via,
após anos e anos de atividade...necessitamos, diante desta nova ameaça, é de
discussão séria e duradoura...só assim, não se repetirão as ameaças, que se
tornam cíclicas, como o próprio cultivo das fibras...”. Este editorial foi
registrado nos anais do Congresso Nacional, em sessão do dia 13.09.1985, pelo
então deputado federal Ubaldino Meirelles.
Velhos Problemas
Quem acompanha o mercado sabe exatamente
que a atual safra enfrenta conhecidos entraves, ou seja, os mesmos registrados
no editorial de 1985. Neste artigo acrescento mais um, a falta de armazéns
credenciados no MAPA que estão impedindo que a Conab faça AGF (Aquisição do
Governo Federal). Entretanto, aproveito para mostrar que esse empecilho também
não é recente e que eu já havia alertado os atores da cadeia dez anos atrás. Em
23/12/2003, nesta mesma coluna, publiquei o artigo intitulado “Armazenagem Deficiente”. Uma semana
depois, ou seja, em 30/12/2003, foi a vez do artigo cujo titulo era “Cadastramento
de Armazéns”. Nas duas publicações alertei que a estocagem de produtos
agropecuários poderia ser problema no meu estado. Hoje, com a exigência da
“certificação” para armazéns privados operarem com a Conab e a inconsequente
venda (lutei muito para não ser concretizada, inclusive com registros na
imprensa), no passado, de três armazéns da ex-cibrazem da capital o problema
ficou ainda mais grave. Penso que fiz minha parte, e vou continuar lutando para
dias melhores ao produtor familiar do Amazonas. Na recente conquista, a da
compra de sacaria biodegradável pelo governo, espero que o reflexo positivo
chegue ao bolso do juticultor, caso contrário, de nada adiantou tanta luta.
Enquanto o governo estadual direcionar todo o poder político para a manutenção
do Pólo Industrial de Manaus, os “velhos problemas” do setor primário do
Amazonas continuarão causando transtornos aos “novos avanços” e aos “bons programas”
do Governo Federal. É lógico que estamos tendo avanços no setor agropecuário
local, mas são pontuais, e sem volume para substituir o modelo econômico do
PIM. E não é difícil virar esse jogo, ficando livre dos ataques regulares de
São Paulo ao modelo da ZFM. Basta colocar o CBA (Centro de Biotecnologia da
Amazônia) em pleno funcionamento (dez anos parado) e dotar os Sistemas Sepror e
SDS, principalmente o IDAM, de estrutura suficiente para executar as atividades
de campo. Teremos criado um novo modelo econômico aproveitando as infinitas potencialidades
regionais gerando empregos na capital e no interior, garantindo a soberania e
segurança alimentar e aliviando o valor da cesta básica, uma das mais altas do
país.
23.04.13
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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