AGRONEGÓCIOS
MESA BRASIL do AM fez sua parte
Num
estado que importa 70% do que é consumido de alimentação básica, cuja farinha
e a fécula de mandioca tem origem no distante estado do Paraná e, ainda, é
abastecido por tambaqui de Rondônia e Roraima entendo que poderíamos ter
dedicado mais importância ao Dia Mundial da Alimentação. Os absurdos não param
por aí. Existem grandes suspeitas de uso abusivo e inadequado de agrotóxicos,
extrema pobreza na área rural e um imoral sistema de desembarque de produtos regionais
no Porto da Ceasa. A cidade de Manaus, apesar de estar entre as capitais mais
importantes do país, sequer discute a agricultura urbana. Com tudo isso
acontecendo, e em plena semana de reflexão sobre a soberania e a segurança
alimentar e nutricional, o que mais se ouviu falar foi sobre a PEC da música.
Aliás, nessa queda de braço nós já dançamos. Agora, aquele “som” produzido em
estômago vazio (fome) foi praticamente esquecido no Amazonas importador de
arroz, feijão, milho e farinha de mandioca. Outro assunto que ocupou os meios
de comunicação foi a dança dos partidos. As autoridades locais não deram
importância para promover o debate sobre a quantidade e a qualidade dos
alimentos aqui produzidos, só quiseram saber quem vai para o PROS e quem é do
“CONTRA”, mesmo estando ciente de que Manaus tem uma das cestas básicas mais
caras do Brasil. A alimentação saudável e em quantidade suficiente para
alimentar o povo amazonense infelizmente só está no discurso, mas deve ir para
a prática o mais urgente possível se não quisermos ter surpresas desagradáveis
no futuro.
ONU e FAO apresentam dados
A ONU
informou que 842 milhões de pessoas continuam privadas de quantidades
suficientes de alimentos e que um terço dos alimentos ou 1,3 bilhão de
toneladas equivalentes a US$ 750 bilhões são desperdiçados. Afirmou, também,
que com um quarto desses números seria possível alimentar essas 842 milhões de
pessoas. Os peritos da ONU estimam ser necessário um aumento de 60% da produção
para responder às necessidades futuras da humanidade, um patamar insustentável
para o planeta. Armazenamento e acesso ao mercado são as principais causas do
desperdício e que a responsabilidade é do excesso de normas e regras devido a
preocupações sanitárias ou estéticas. A FAO mostrou que a subnutrição abrange
26% das crianças que apresentam atraso no crescimento, e 1,4 bilhão de pessoas
com excesso de peso, incluindo 500 milhões de obesos. Mesmo com esses números
assustadores o Amazonas praticamente ignorou a existência desses graves
problemas.
Mesa Brasil salvou o ano
Se não fosse a feliz iniciativa do programa Mesa
Brasil/SESC do Amazonas em realizar o Seminário “Dia Mundial da Alimentação”
com o tema “Sistemas Alimentares Sustentáveis para a Segurança Alimentar e
Nutricional” esse importantíssimo assunto teria passado praticamente em branco.
Tive o prazer de ser o mediador da mesa redonda que debateu o conteúdo de três
estratégicas palestras. A primeira feita pelo Márcio Barros, agrônomo, servidor
da Sepror, com o tema “Sistemas Alimentares Sustentáveis no Amazonas”. A
segunda, da Embrapa, realizada pelo Raimundo Rocha, responsável pelo setor de
Transferência de Tecnologia, com o tema “Estratégias de multiplicação rápida de
variedades de mandioca para o aumento da produção de farinha e fécula no
Amazonas”. Por último, a colega de Consea, Leida Reny Borges Bressane,
nutricionista e conselheira do CFN, apresentou o tema “Ações do CFN voltadas
para a promoção da Segurança Alimentar e Nutricional. O evento ocorreu no
auditório da SEAS e foi aberto com mensagens da Graça Prola, Pedro Neto
(Consea/AM) e Andrezza Litaiff (SESC). O resultado já era esperado. As
tecnologias já disponíveis na Embrapa não chegam na ponta. O Sistema Sepror,
principalmente o IDAM, precisa ampliar o seu quadro de técnicos. O Conselho
Federal de Nutricionistas alertou e se comprometeu a acompanhar mais de perto a
questão que envolve o uso de agrotóxicos no estado, em parceria com o Consea.
Também ficou evidente que o atraso do Amazonas ao tema da segurança alimentar e
nutricional deve-se à quase que exclusiva dedicação do poder político local em
defesa do modelo da ZFM/PIM. Esquecem que a expressiva maioria dos amazonenses,
principalmente os que vivem no interior e na periferia, não tem o privilégio de
altas remunerações mensais, ou seja, não podem pagar R$ 10/15 reais num quilo de
farinha de mandioca e tampouco colocar no prato diário as tão saudáveis e
recomendáveis saladas. Enquanto isso o
que mais interesse são as fichas de filiação e a PEC da música. Também foi
muito bom dividir este importante momento com os amigos e colegas de CONSEA,
pessoas altamente comprometidas com a melhoria de vida da população mais
necessitada. É uma luta de dez anos que tenho tido o privilégio de acompanhar
guerreiras como a irmã Alzira, Miquelina, Pedro Neto, Adenilde, Neires, Cintia
e tanto outros que o espaço não permite nominar. O caminho para tornar o
Amazonas exemplo de segurança alimentar e nutricional é muito longo, mas vamos
fazendo, e bem, a nossa parte. Parabéns à equipe do Mesa Brasil (Ellinaldo,
Kelly, Monick, Janayne) pela iniciativa e organização.
22.10.2013
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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