1364 conflitos no campo. Por
terra, por água, por relações trabalhistas... Esse é apenas um dos números da
violência no campo no ano de 2012. A partir deste dado, surgem números de
mortos, feridos, famílias expulsas de seus territórios e outros conflitos.
Este é o resultado da última pesquisa feita pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT), que faz este levantamento detalhado anualmente, desde 1985.
Tradicionalmente, estes dados coletados são reunidos em um livro, junto a
análises das causas das situações de violência no campo e repercussão delas para
a vida no campo brasileiro. Este ano, para fazer o lançamento do livro Conflitos
no Campo Brasil 2012, a CPT escolheu um local de representatividade para a
causa: o acampamento Hugo Chávez, em Brasília. “Eu nunca vi um lançamento em um
lugar tão bonito como esse. Tão no chão da nossa terra, no cerrado do
centro-oeste” comentou Dom Tomás Balduíno, conselheiro permanente da CPT,
presente na cerimônia.
Dom Tomás, inclusive, dá nome ao centro de pesquisa
da CPT.
Além dos convidados para a solenidade, participaram também os
acampados e acampadas, que puderam tomar conhecimento da séria situação
conflituosa que o Brasil passa. Essas pessoas sabem o que é sofrer com a
violência imposta pelo poder privado e público e o descaso do governo, e talvez
as histórias retratadas pelo livro não sejam novidade. Mas, os números não
deixam de ser espantosos.
Números e vidasToda essa
pesquisa procura mostrar além dos dados, que por sinal são diferentes das
informações oficiais de instituições como o Incra, por terem sido coletados com
proximidade aos acontecimentos. Não são somente números, são vidas perdidas em
prol de razões que não deveriam existir. Direitos suprimidos, descaso e muita
violência, contra pessoas que só queriam defender seu pedaço de terra, sua
produção, sua família e a comunidade em que viviam. Cada morte, cada ferimento
carrega uma história de luta e injustiça.
Na cerimônia, Antonio Canuto,
membro da equipe que trabalhou as informações do livro, apresentou os dados de
forma detalhada, explicando os critérios. Vale lembrar que o livro traz dados
não somente dos conflitos, mas também de trabalho escravo no país, causa também
acompanhada pela CPT. “Estes números não representam a realidade toda, mas
aquilo que tomamos conhecimento. Muito mais do que isso há por aí, que ninguém
sabe e nem fica sabendo. No momento que tomamos conhecimento de alguma violência
contra o trabalhador do campo, fica registrado”, explicou.
Carlos Walter,
professor da Universidade Federal Fluminense, também levou ao lançamento uma
apresentação dos números ao longo dos 28 anos, desde que a CPT iniciou o
levantamento de dados, agregando reflexões e criticando o atraso do governo em
resolver essas situações. “Há 500 anos o modelo agrário no Brasil tem a mesma
cara”, afirma o professor. “Em média, 2.700 famílias são expulsas por ano, fora
os muitos assassinatos. A grande questão são os conflitos. Este trabalho deve
reforçar em cada um de nós o sentido profundo dessa luta travada com o
agronegócio no Brasil”.
TestemunhoUm dos momentos
marcantes da cerimônia foi o depoimento da quilombola Rosimeire dos Santos, do
Quilombo Rio dos Macacos, na Bahia. Ela deu um relato sobre as ameaças,
violências e abusos que sua comunidade sofre nas mãos da Marinha de Guerra, que
cercou a região e não reconhece os direitos daqueles que lá vivem. Rosimeire,
militante ameaçada de morte, diz que o quilombo nunca foi ouvido pelas
autoridades e a situação está no limite.
Importância do
trabalhoO trabalho de pesquisa da CPT é de grande importância e
estratégia, do ponto de vista da reforma agrária no Brasil, como argumenta o
futuro secretário de Política Agrária da CONTAG, Zenildo Pereira Xavier: “A
iniciativa, para a sociedade e para nós do Movimento Sindical dos
Trabalhadores(as) Rurais, retrata a realidade da reforma agrária no país. É
muito importante para os movimentos sociais esta estratégia de reunir os dados
reais, pois pode, de alguma forma, sensibilizar o governo para que a reforma
agrária não fique somente no papel.”
Para o atual secretário de Política
Agrária da CONTAG, Willian Clementino, a situação da violência no campo é
lamentável, e falta muito para a resolução por parte do governo. “Uma vez que o
governo brasileiro não tem coragem de enfrentar os problemas agrários do Brasil,
ainda é preciso que a CPT e o conjunto dos movimentos sociais divulguem essa
enfermidade na sociedade, que é a violência no
campo”.
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