quinta-feira, 23 de abril de 2015

Meio século plantando juta e malva em Manacapuru

Excelente essa matéria da Priscilla.
Petrônio Marinho Toga: Ele foi um dos fundadores da Coomapem e hoje conta um pouco da sua história de luta colhendo fibras
Por PRISCILLA TORRES
Redação Portal Coopnews

Pisando a passos lentos, porém firmes, encharcados na lama, misturadas às fibras de juta e malva, queimadas no grande incêndio de julho de 2013, caminha Petrônio Marinho Toga, 79 anos, dos quais 51 mais de meio século trabalhando no plantio de fibras vegetais no interior do Amazonas. Petrônio conta que ainda garoto veio de Janauacá com seus pais em busca de mudança de vida, e em Manacapuru conheceu o trabalho da Cooperativa Mista Agropecuária de Manacapuru (Coomapem).
Sócio desde sua fundação, Petrônio relembra que ainda nem existia sede própria quando ele e o pai começaram a participar das reuniões da cooperativa. Aos 18 anos começou a trabalhar na colheita de fibras e de lá em diante passou a sustentar esposa, filhos netos e bisnetos. Em julho de 2013 ocorreu um incêndio no galpão da cooperativa, que destruiu cerca de 700 toneladas de fibras prontas para a comercialização.
Petrônio continua o seu relato lembrando que neste ano a cooperativa teve um enorme prejuízo e seus cooperados foram forçados a dar uma pausa na produção, pois a quantidade de fibras pronta para venda não pôde ser entregue aos clientes, e a cooperativa teve que recorrer a empréstimos á instituições financeiras para tentar recuperar o prejuízo, e mesmo assim ainda não foi suficiente para sanar todas as dívidas, tendo que colocar a sede própria à venda.
Andando no terreno, agora tomado pelo mato e a lama, Petrônio sobe em uma ‘montanha’ de fibras queimadas e úmidas da chuva, olha à distância e depara com a solidão e avalia o prejuízo, mas mesmo assim, diante da situação que enfrenta, parece não perder o bom humor e a esperança que acompanha o ‘velho’ juteiro, que transformou a fibra na sua história de vida.
Acompanhado por uma equipe de jornalistas que foi documentar o abandono da propriedade da cooperativa, Petrônio tenta ‘escalar as montanhas’ de fibras queimadas, um dos jornalistas pergunta se precisa de ajuda, ele de forma singela sorri e responde que está acostumado a lidar com isso todos os dias. Alguns passos à frente ele encontra um plantio de malva no meio do matagal, e cheio de vontade, arranca a árvore e mostra aos jornalistas que ainda tem vigor para colher a fibra, ensinando a equipe um pouco mais sobre seu honrado trabalho. Ele mostra aos jornalistas no meio das sucatas que restaram do galpão da cooperativa todo o processo da colheita, armazenamento, prensa e comercialização do produto, e declara: “Se o governo nos ajudar, reconhecendo o valor do ‘juteiro’, investindo na fibra, brevemente estarei de volta ao meu trabalho”.
Emocionado, Petrônio olha para a imensidão dos fardos de juta queimados, e mesmo com toda a adversidade sorri, confiante em uma breve e segura mudança para a cooperativa. Ele agradece a equipe de jornalistas por ouvirem a sua história e poder compartilhá-la para o mundo.  
“A juta e a malva são o ouro branco do Amazonas que insiste em chegar ao fim. Passei a vida inteira plantando juta, assim sustentei a minha família, criei meus filhos e netos e até hoje vivo nessa luta sem arrependimento. Sinto orgulho do meu trabalho, e apesar das dificuldades que enfrentamos, ainda tenho esperança de permanecer no plantio da fibra para continuar alimentando a minha família”, argumenta o produtor.
Política de subvenção – A política de subvenção de malva e juta completou dez anos. O Governo do Estado ao longo desses anos tem apoiado e incentivado a produção no Amazonas. Além de pagar a subvenção, os produtores recebem apoio técnico, logística para o escoamento da produção e acesso ao crédito através da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) e dos bancos oficiais.
Fibra no Brasil – O Brasil consome aproximadamente 20 mil toneladas de fibra de malva e juta por ano. O Amazonas é o maior produtor do País, com 12 mil toneladas anualmente. O restante é importado do sul da Ásia, mais precisamente de Bangladesh. As fibras de malva e juta são utilizadas na confecção de sacarias para armazenamento de grãos, como café, arroz, feijão e milho.

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