Thais Leitão
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade, em Brasília,
transformou-se em um grande acampamento de trabalhadores e trabalhadoras ligados
ao campo de várias regiões do país. Pelo espaço, espalham-se barracas que
abrigam aproximadamente 7 mil pessoas, segundo os organizadores do Encontro
Unitário dos Trabalhadores, Trabalhadoras e Povos do Campo, das Águas e das
Florestas, número estimado a partir do número de inscritos no evento.
O evento ocorre até amanhã (22), quando está programada uma marcha pela
Esplanada dos Ministérios, e tem o objetivo de promover debates ligados ao
desenvolvimento sustentável do campo, como reforma agrária, agroecologia e
educação para a população campesina.
Acampada com cinco pessoas, a paranaense Carmem Lúcia de Oliveira, de 54
anos, disse que veio à capital federal com a esperança de fortalecer seu sonho
de ter um pedaço de terra para plantar. Ela vive há 13 anos em uma comunidade
ribeirinha na cidade de Icaraíma (PR), próxima à divisa com o Mato Grosso do
Sul. Sem saber trabalhar em outra atividade que não a agricultura, ela disse
resistir à ideia de se mudar para a cidade.
“A gente sempre trabalhou para os fazendeiros, fomos criados na roça, não
posso ir para a cidade, porque não vou ter o que fazer lá. Meu sonho é ter meu
pedaço de terra para plantar para a minha família e também para o homem da
cidade”, disse.
O pequeno agricultor Iuri Gonçalves, de 24 anos, não precisou viajar para
reforçar suas reivindicações. Morador do Distrito Federal, ele levou o filho,
Kalel Iuri, de dois meses, e disse que também pretende ver a agricultura
familiar ganhar mais espaço no país.
“Somos nós que alimentamos o brasileiro e precisamos de mais apoio por meio
de políticas públicas. Trouxe meu filho recém-nascido porque temos que nos unir
e aprender a importância de lutar pelos nossos direitos desde cedo”, disse.
Para alimentar os participantes do encontro, foram montadas cozinhas
comunitárias abastecidas por produtos trazidos pelos movimentos sociais. Todos
os alimentos são frutos da atividade de pequenos agricultores. Na cozinha
administrada por integrantes de organizações de Pernambuco, do Ceará e Piauí, a
panela do feijão-tropeiro foi a primeira a ficar vazia no almoço de hoje (21),
segundo Márcia Socorro, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
piauiense.
“Foi o que fez mais sucesso hoje. Fizemos bastante comida, mas o povo gostou
do feijão-tropeiro e acabou rapidinho”, disse enquanto servia macarrão aos
participantes que formavam fila.
Já na cozinha montada pelo MST da Bahia, a farofa de cuscuz e a carne de sol
foram os pratos preferidos. “Estava muito gostoso e todo mundo quis comer um
pouquinho”, brincou Helena Amorim, integrante do movimento e uma das
responsáveis pelo preparo da comida.
No local, a diversidade cultural brasileira também é evidenciada em pequenas
barracas montadas para comercialização de produtos artesanais. Em uma delas,
mulheres que vivem em uma comunidade agrícola da cidade de Itaberá, em São
Paulo, vendem sabonetes medicinais, como os feito à base de calêndula.
As trabalhadoras garantem que, entre outras vantagens, os produtos são bons
para alergia, cravo e feridas na pele. "A gente usa e também passa nos nossos
filhos. Por isso, vemos que realmente funciona", disse a camponesa Terezinha
Mariano, que também produz xaropes com ervas medicinais.
Edição: Fábio Massalli
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