A articulação para a criação de um local adequado para armazenamento de sementes "crioulas", de plantas regionais, foi a principal discussão dos agricultores presentes no curso Manejo de Sementes para a Prática da Horticultura, realizado dia 12 de novembro na Embrapa Amazônia Ocidental. O curso foi direcionado aos agricultores ligados à Associação dos Produtores Orgânicos do Amazonas (Apoam) e reuniu representantes de várias comunidades da região metropolitana de Manaus.
O Banco de Sementes funciona como uma poupança, no qual as sementes são guardadas com segurança e retiradas quando necessárias. Algumas sementes podem ser guardadas por muito tempo, outras devem ser usadas em prazos menores, devido a sua capacidade de germinação. "O banco é a segurança de ter a semente para plantar na época adequada. Com isso, o agricultor ganha soberania de decidir o que quer plantar, como plantar e o que plantar, sem depender de sementes produzidas pelas indústrias agroquímicas", explicou Silas Garcia, pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental.
De acordo com o pesquisador, as sementes para serem armazenadas no longo prazo devem estar secas e bem acondicionadas. Sementes de alface, cebola, coentro, feijão, milho, quiabo e repolho, por exemplo, tem secagem mínima, por que são colhidas bastante secas. Enquanto as sementes extraídas de frutos carnosos, tais como: abóbora, melão, pimentão, tomate, mamão, laranja, apresentam maior umidade e devem passar por um processo de secagem antes do armazenamento.
Na prática, para se determinar a umidade das sementes de algumas espécies (abóbora, melancia, por exemplo), consiste em dobrar as mesmas e, se quebrarem facilmente é por que estão secas. Sementes mais duras deve-se pressionar a unha na superfície, se não permanecer a marca é sinal de que as mesmas já estão secas.
Os agricultores geralmente armazenam suas sementes em ambiente natural, ventilado com temperatura entre 25 a 28 graus Celsius, guardadas em garrafas pets fechadas e em local seguro de roedores, ou em geladeira doméstica em temperatura baixa ou média. Mas para alguns dos participantes do curso ainda há muita dúvida sobre o processo de secagem e armazenagem das sementes.
A pesquisadora Lucinda Carneiro, responsável pelo Laboratório de Sementes da Embrapa, durante a palestra, recomendou que, devido ao forte calor e elevada umidade da região amazônica, o mais recomendável é secar as sementes em local coberto e arejado. Preferencialmente em peneiras situadas acima do chão e cobertas com telhas.
Antes do início do curso, os participantes se apresentaram e falaram de suas expectativas para o evento. O agricultor José Rodrigues, do Assentamento Iberê, da comunidade Água Branca, disse que esperava melhorar seus conhecimentos sobre a aquisição e armazenagem de sementes e que esse curso "tinha caído do céu".
A agricultora Cleia Nunes, da comunidade Cristiano de Paula, disse que sentia muita falta de informações sobre sementes, "que é onde tudo começa" na agricultura. Precisava aprender como tratar, guardar, o tempo necessário de secagem. Segundo ela, essa ausência de conhecimento está fazendo com que perca a oportunidade de aumentar seus plantios e de produzir muito mais em seu sítio.
O engenheiro florestal do Museu da Amazônia (Musa), Eric Brosler, comentou a respeito da importância do armazenamento e compartilhamento de sementes, manivas, estacas entre os comunitários, por que, segundo ele, está se perdendo muito da biodiversidade pela ausência de conhecimento. "Este é um dia importante para a troca de conhecimentos", observou. O coordenador da Rede Maniva de Agroecologia (Rema), engenheiro Marcio Menezes, explicou que o curso nasceu de uma demanda dos agricultores familiares que buscam formar um banco de sementes agroecológicas, sem conservantes químicos e que possam atender a agricultura orgânica no Amazonas.
A capacitação foi realizada pela Embrapa e contou com o apoio da Apoam, Rede Maniva de Agroecologia, Museu da Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas, por meio do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Permitiu a divulgação dos conceitos básicos, das práticas e dos critérios técnicos para orientar o manejo adequado de sementes de espécies da horticultura amazônica, a fim de permitir que os agricultores orgânicos da região do entorno de Manaus façam um aproveitamento mais racional das sementes, com o intuito de melhorar a conservação desse material, bem como realizar a prática da troca de sementes.
A programação buscou atender as principais dúvidas dos agricultores sobre a aquisição, manutenção e armazenamento de sementes para a prática da horticultura. Foram realizadas palestras sobre a importância da semente, da soberania alimentar e da soberania do agricultor; Banco de Sementes; desenvolvimento de frutos e dispersão de sementes; beneficiamento e análise de sementes; noções básicas de anatomia de sementes; tipos de sementes; germinação e viabilidade de sementes; métodos para a quebra de dormência de sementes; e armazenamento e conservação de sementes.
O curso integra as atividades do projeto Desenvolvimento de tecnologias e avaliação de aspectos biofísicos em sistemas agroflorestais de diferentes estados da Amazônia Brasileira. Foram coordenadoras do evento as pesquisadoras da Embrapa, Lucinda Carneiro Garcia e Elisa Vieira Wandelli. Participam como instrutores Lucinda Carneiro Garcia e Silas Garcia Aquino de Sousa e o técnico Sebastião Sales.
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