Carolina Gonçalves
Repórter da Agência
Brasil
Brasília – O mundo pode viver uma crise alimentar global, como as de 2007 e
2008, caso os governos não adotem medidas urgentes para reverter a alta dos
preços. O alerta foi publicado hoje (4) por três agências da Organização das
Nações Unidas (ONU), com sede em Roma.
A crise é motivada pela quebra de safra das principais regiões produtoras do
mundo, o que tem pressionado os preços no mercado mundial. “Somos vulneráveis
porque, mesmo em um bom ano, a produção mundial de cereais é apenas o suficiente
para atender a crescente demanda por alimentos, ração e combustível. Em um mundo
onde há 80 milhões a mais de bocas para alimentar a cada ano, nós estamos em
perigo, já que apenas um punhado de países são grandes produtores de alimentos
básicos”, destacou o comunicado conjunto assinado por representantes da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), do Fundo
Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (Fida) e do Programa Alimentar
Mundial (PAM).
Os produtores de milho, trigo e soja de várias regiões do mundo têm
registrado prejuízos históricos em função da forte seca. Nos Estados Unidos, por
exemplo, onde o cultivo de milho já apresentou saldos decrescentes no ano
passado, os agricultores estimam perdas em torno de 20% a 30% com a estiagem
deste ano. Os prejuízos podem ultrapassar a marca das 130 milhões de toneladas,
se somadas as lavouras de soja e milho.
As lideranças das três agências da ONU defendem uma ação internacional
conjunta para reverter o cenário. “Há duas questões interligadas que devem ser
abordadas: a questão imediata dos altos preços de alguns alimentos, que podem
afetar significativamente os países dependentes da importação de alimentos e as
pessoas mais pobres, e o problema a longo prazo de como produzir, comercializar
e consumir alimentos em um momento de crescimento da população, da demanda e de
mudanças climáticas.”
Os dirigentes da FAO, Fida e PAM destacaram que o impacto da alta dos
alimentos recai de formas diversas sobre diferentes economias e apontaram
estratégias de solução, como o maior investimento no segmento de pequenos
produtores de alimentos para que possam aumentar a produtividade, acesso aos
mercados e reduzir a exposição ao risco.
“Adotamos uma abordagem de duas vias que apoia investimentos de longo prazo
na agricultura, principalmente dos pequenos produtores, assegurando que as redes
de segurança [alimentar] estão no local para ajudar os consumidores e produtores
de alimentos pobres e evitar a fome, perda de bens e a armadilha da pobreza no
curto prazo”, destacam.
Apesar da referência à crise de 2007, quando os níveis de produção e estoque
baixaram drasticamente levando vários países a restringirem o consumo e adotarem
políticas de subsídio e estímulo à exportação para solucionar o problema, os
organismos das Nações Unidas reconhecem que o mundo está mais preparado do que
há cinco anos.
A instituição do Grupo de Trabalho sobre Segurança Alimentar Alto Nível
Mundial e de Informação de Mercado Agrícola Sistema G20 (Amis, na sigla em
inglês), foram apontados como exemplos desse avanço.
Apesar do tom de alerta, as agências da ONU acrescentaram que, neste cenário,
“as coisas que devem ser evitadas são tão importantes quanto aquelas que devem
ser adotadas”. O comunicado ressalta que os países devem evitar compras
motivadas pelo pânico e se abster de impor restrições à exportação que, embora
temporariamente ajude alguns consumidores no mercado interno, são geralmente
ineficazes.
Edição: Carolina Pimentel
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