terça-feira, 4 de setembro de 2012

Participação do AM na produção nacional de grãos é de 0,03% (Publicado hoje no JC)


AGRONEGÓCIOS

Participação do AM na produção nacional de grãos é de 0,03%

Ontem, mais uma vez, o Amazonas foi prestigiado com a visita de um ministro do governo do PT. Dessa vez foi Pepe Vargas, ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), que anunciou a disponibilidade de aproximadamente R$ 135 milhões para o estado, dos quais R$ 100 milhões destinam-se ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para financiar projetos individuais ou coletivos de agricultores familiares e assentados da reforma agrária. Dos recursos do Pronaf, os agricultores familiares poderão contar com R$ 50 milhões para operações de custeio e R$ 50 milhões para investimentos na aquisição de máquinas, equipamentos e infraestrutura. Apesar das boas notícias, dos milhões disponibilizados anualmente, da disposição dos governos Lula e Dilma com o agricultor familiar brasileiro que já possui a Declaração de Aptidão ao Pronaf, os números agropecuários do meu Amazonas ainda são inexpressivos. Em agosto passado, a Conab divulgou os números da produção nacional de grãos da atual safra e, nossa participação, não ultrapassa os insignificantes 0,03%. É isso que queremos? Vejam, a seguir, números da região Norte.

Produção de Grãos – Safra 2011/2012

Estado/UF
SOJA
MILHO
FEIJÃO
ARROZ
Em mil t
Tocantins
1.361,1
474,9
40,8
442,3
2.319,1
Pará
376,2
595,6
37,8
222,4
1.232,0
Rondônia
462,6
462,5
36,8
137,0
1.098,9
Roraima
10,4
13,0
2,0
107,1
132,5
Acre
-
96,6
7,2
22,1
125,9
Amazonas
-
36,0
5,3
13,0
54,3
Sendo o maior estado brasileiro em dimensão geográfica e com terra, água e gente suficiente para a produção agrícola sustentável, sem desmatar, entendo que é inaceitável conviver pacificamente com esses números que comprometem a soberania e a segurança alimentar do povo que aqui vive. Além de terra e água, temos a urgente necessidade de gerar emprego nos 61 municípios. Entretanto, nos longos discursos, ficamos patinando nos agradecimentos e na afirmativa de que estamos crescendo. É lógico e visível que estamos crescendo, e não poderia ser diferente diante de tamanho apoio que a agricultura familiar vem recebendo do governo federal e do incremento local proporcionado pelo Zona Franca Verde. Contudo, as perguntas e as reflexões que devemos fazer são outras, vejamos: Estamos crescendo no setor rural o suficiente para mudar a vida do homem do interior? Na atual velocidade, conseguiremos um novo modelo econômico para substituir o PIM e se livrar dos ataques de São Paulo para o resto da vida? O dinheiro do Pronaf tá chegando ao bolso do produtor rural na qualidade e quantidade que queremos? A assistência técnica já está compatível com o desafio amazônico? A resposta a essas perguntas certamente será negativa, mas o que falta para virar esse jogo? Muita coisa, e uma das primeiras é fazer chegar o recurso do Pronaf no bolso do caboclo mais distante. Vejam, a seguir, os baixos números do Amazonas no Pronaf.

Estado/UF
Pronaf/Ano (2000)
Pronaf/Ano (2012)
Rondônia
R$ 57 milhões aplicados
R$ 261 milhões aplicados
Pará
R$ 30 milhões aplicados
R$ 202 milhões aplicados
Tocantins
R$ 15 milhões aplicados
R$ 95 milhões aplicados
Acre
R$ 2,6 milhões aplicados
R$ 42 milhões aplicados
Amazonas
R$ 175 MIL aplicados
R$ 52 milhões aplicados

Os números demonstram que a mais de dez anos estamos encontrando dificuldade em operar o Pronaf no Amazonas, e ninguém diz nada, e ninguém fala nada. Pará, Acre, Tocantins e Rondônia estão sendo mais eficientes e certamente é esse um dos motivos para a produção de grãos nesses estados ser bem superior (veja quadro). Não precisa ser especialista para constatar que o maior gargalo do Pronaf é a absurda e inaceitável falta de bancos oficiais em 43 municípios do Amazonas, segundo dados oriundos de recente mapeamento da Associação Amazonense de Municípios. Com relação ao assunto, soube, recentemente, que a Assembleia Legislativa do Amazonas aprovou requerimento de autoria do deputado Luiz Castro, assinado por todos os deputados que integram a Frente Parlamentar do Cooperativismo, reivindicando melhor estrutura institucional dos agentes financeiros que operam o crédito rural e, também, os benefícios do garantia-safra para os agricultores amazonenses. Nosso caboclo preservou ao mundo 98% da floresta, portanto, é mais do que justo que ele tenha uma vida mais digna e humana. O dinheiro do Pronaf, que é dele, e foi feito para ele, precisa chegar ao verdadeiro dono em nosso estado. Sem banco, jamais irá chegar. Meu amigo, botafoguense e competente presidente da OCB/AM, Petrúcio Magalhães, tem me dito que, em Rondônia, tem 21 cooperativas de crédito operando o Pronaf. Quem sabe, na ausência de bancos oficiais, esteja aí a saída para o Amazonas e o motivo de Rondônia ter destaque no Pronaf e na produção rural. O momento é mais do que oportuno para reivindicar, pois temos um governo federal sensível a esse público. Caso contrário, permaneceremos nos atuais 0,03% da produção nacional de grãos. “É por aí o caminho”, como sempre disse meu inesquecível e saudoso amigo, Eurípedes Ferreira Lins.

04.09.12

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, administrador, servidor público federal, especialista na gestão da informação ao agronegócio / e-mail para: thomaz.meirelles@hotmail.com

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