terça-feira, 18 de setembro de 2012

Publicado no JC - Discurso de 1985 comprova que entrave bancário é antigo no AM


 
 
AGRONEGÓCIOS

Discurso de 1985 comprova que entrave bancário é antigo no AM

Ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida, e sempre que tenho oportunidade, tenho ressaltado que a maior herança que meu pai, Ubaldino Meirelles, pode me deixar é, sem dúvida, seu belo, útil e honroso passado, acompanhado da minha querida mãe, Maria de Nazaré Perez da Silva, esposa e companheira exemplar. Nos atuais dias, ele tem se ocupado em registrar, em livro, previsto para lançar em julho de 2013, data em que completa 80 anos, toda sua humilde contribuição ao Amazonas. Dentro do tempo disponível, tenho procurado colaborar, juntamente com amigos e parentes, na construção dessa importante obra. Nesse sentido, chamou atenção o discurso por ele proferido, em 17.06.1985, na Câmara Federal, solicitando agências bancárias para o nosso estado. Naquela altura, meu pai reivindicava ao ministro da Fazenda e ao Conselho Monetário Nacional agências itinerantes do Banco do Brasil ou Banco da Amazônia e, também, a criação de agências no interior. Passados 27 anos, poucos foram os avanços alcançados no atendimento bancário ao caboclo do interior, o vazio bancário ainda é grande. E certamente é esse o principal motivo do nosso baixíssimo acesso ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e de contribuirmos com apenas 0,03% na produção nacional de grãos. É do meu conhecimento que, recentemente, a Caixa Econômica implementou, por meio de embarcação, a primeira agência bancária itinerante fluvial do Amazonas, entretanto, é bom lembrar que a Caixa não opera o crédito rural, fato este que deve ser modificado pelo governo federal. Hoje, no Amazonas, quem mais opera o crédito rural é o Banco da Amazônia, inclusive utilizando ações itinerantes, contudo, os poucos avanços, comprovados numericamente ao comparar com outras unidades da federação, deixam evidente a extrema necessidade de dotar todos os 61 municípios do estado com uma agência bancária que opere o Pronaf. No meu entendimento, o caboclo que preservou 98% da floresta para o mundo necessita de mais esse apoio público, pois precisa ter uma vida digna e humana. Transcrevo, a seguir, trechos do discurso que comprova, por mais de 27 anos, o entrave causado ao desenvolvimento do interior do Amazonas pela ausência de instituições bancárias.

Íntegra do discurso, datado de 1985

Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Amazonas, por suas próprias características, é, além de um Estado continental, considerando-se suas imensas proporções, um local sui generis, no que tange aos meios de transportes, ao invés de rodovias e ferrovias, como acontece em toda parte, suas estradas são os rios, por onde circulam as nossas riquezas, a nossa produção, o nosso comércio e o nosso povo. É através desses mesmos rios que o Governo Federal importante trabalho social junto às populações ribeirinhas, a maioria das quais a nível itinerante. A Marinha, por exemplo, mantém dois navios hospitais circulando permanentemente pelo Amazonas, prestando assistência médica, ambulatorial, odontológica e farmacêutica, levando cura e alívio aos males do nosso povo que habita os mais distantes e inacessíveis rincões da selva. A Cobal igualmente mantém um supermercado itinerante, destinado a abastecer essas populações com gêneros alimentícios de primeira necessidade. Até mesmo mascates utilizam-se dos barcos fluviais para levar seus produtos às longínquas comunidades; desta forma, essas populações são razoavelmente assistidas e abastecidas, apesar das dificuldades de locomoção oferecidas pela própria natureza. Pesquisadores, cientistas, estudiosos, enfim, todos os que desejam de alguma forma entrar em contato com as vilas e lugarejos mais distantes também o fazem da mesma maneira. Aos poucos, percebemos que a civilização, juntamente com seus benefícios; vai conseguindo adentrar na selva, e o povo amazonense – saindo do abandono a que era relegado - , começa a receber certas facilidades e assistência que, de outra maneira, não lhe seria possível alcançar, devido às grandes distâncias que forçosamente teria que percorrer até atingir um local mais desenvolvido onde determinados serviços estão disponíveis.



assistência a nível bancário”

O discurso continua: Falta-lhes, entretanto, qualquer tipo de assistência a nível bancário – o que obriga o homem amazonense a deslocar-se em longas viagens de barcos perdendo às vezes vários dias, até chegar a uma cidade que tenha um banco onde realizar seus negócios. Preocupado ante tal dificuldade, apressamo-nos em encaminhar ao Sr. Ministro da Fazenda, Francisco Neves Dornelles, expediente onde, modestamente, sugeríamos fossem feitos estudos sobre a viabilidade da instalção de uma agência flutuante itinerante do Banco do Brasil – ainda que em caráter experimental -, para funcionar nos rios do Estado do Amazonas. Como alternativa, sugerimos a criação de uma ou várias agências ou posto de atendimentos ao público da região. A pioneira missão não necessariamente poderia ser atribuída ao Banco do Brasil, caso não seja considerada oportuna àquela entidade. Tanto o Banco da Amazônia quanto o Banco do Estado do Amazonas poderiam, eventualmente, exercer a atividade proposta. Temos plena confiança de que o Ministro da Fazenda e as autoridades do Conselho Monetário Nacional serão sensíveis ao atendimento do pleito em tela, pela importância e os inegáveis benefícios que a sua concretização traria para o Amazonas. Uma agência itinerante, nos moldes do ora propostos, prestando todos os serviços bancários, contribuiria certamente para resolver uma angustiante aspiração do homem amazonense.



18.09.12

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, administrador, servidor público federal, especialista na gestão da informação ao agronegócio

e-mail para: thomaz.meirelles@hotmail.com

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