AGRONEGÓCIOS
Discurso
de 1985 comprova que entrave bancário é antigo no AM
Ao longo dos meus quase cinquenta anos de vida, e sempre que tenho
oportunidade, tenho ressaltado que a maior herança que meu pai,
Ubaldino Meirelles, pode me deixar é, sem dúvida, seu belo, útil
e honroso passado, acompanhado da minha querida mãe, Maria de Nazaré
Perez da Silva, esposa e companheira exemplar. Nos atuais dias, ele
tem se ocupado em registrar, em livro, previsto para lançar em julho
de 2013, data em que completa 80 anos, toda sua humilde contribuição
ao Amazonas. Dentro do tempo disponível, tenho procurado colaborar,
juntamente com amigos e parentes, na construção dessa importante
obra. Nesse sentido, chamou atenção o discurso por ele proferido,
em 17.06.1985, na Câmara Federal, solicitando agências bancárias
para o nosso estado. Naquela altura, meu pai reivindicava ao
ministro da Fazenda e ao Conselho Monetário Nacional agências
itinerantes do Banco do Brasil ou Banco da Amazônia e, também, a
criação de agências no interior. Passados 27 anos, poucos foram os
avanços alcançados no atendimento bancário ao caboclo do interior,
o vazio bancário ainda é grande. E certamente é esse o principal
motivo do nosso baixíssimo acesso ao Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e de contribuirmos
com apenas 0,03% na produção nacional de grãos. É do meu
conhecimento que, recentemente, a Caixa Econômica implementou, por
meio de embarcação, a primeira agência bancária itinerante
fluvial do Amazonas, entretanto, é bom lembrar que a Caixa não
opera o crédito rural, fato este que deve ser modificado pelo
governo federal. Hoje, no Amazonas, quem mais opera o crédito rural
é o Banco da Amazônia, inclusive utilizando ações itinerantes,
contudo, os poucos avanços, comprovados numericamente ao comparar
com outras unidades da federação, deixam evidente a extrema
necessidade de dotar todos os 61 municípios do estado com uma
agência bancária que opere o Pronaf. No meu entendimento, o caboclo
que preservou 98% da floresta para o mundo necessita de mais esse
apoio público, pois precisa ter uma vida digna e humana. Transcrevo,
a seguir, trechos do discurso que comprova, por mais de 27 anos, o
entrave causado ao desenvolvimento do interior do Amazonas pela
ausência de instituições bancárias.
Íntegra
do discurso, datado de 1985
Sr. Presidente, Srs. Deputados, o Amazonas, por suas próprias
características, é, além de um Estado continental, considerando-se
suas imensas proporções, um local sui generis, no que tange aos
meios de transportes, ao invés de rodovias e ferrovias, como
acontece em toda parte, suas estradas são os rios, por onde circulam
as nossas riquezas, a nossa produção, o nosso comércio e o nosso
povo. É através desses mesmos rios que o Governo Federal importante
trabalho social junto às populações ribeirinhas, a maioria das
quais a nível itinerante. A Marinha, por exemplo, mantém dois
navios hospitais circulando permanentemente pelo Amazonas, prestando
assistência médica, ambulatorial, odontológica e farmacêutica,
levando cura e alívio aos males do nosso povo que habita os mais
distantes e inacessíveis rincões da selva. A Cobal igualmente
mantém um supermercado itinerante, destinado a abastecer essas
populações com gêneros alimentícios de primeira necessidade. Até
mesmo mascates utilizam-se dos barcos fluviais para levar seus
produtos às longínquas comunidades; desta forma, essas populações
são razoavelmente assistidas e abastecidas, apesar das dificuldades
de locomoção oferecidas pela própria natureza. Pesquisadores,
cientistas, estudiosos, enfim, todos os que desejam de alguma forma
entrar em contato com as vilas e lugarejos mais distantes também o
fazem da mesma maneira. Aos poucos, percebemos que a civilização,
juntamente com seus benefícios; vai conseguindo adentrar na selva, e
o povo amazonense – saindo do abandono a que era relegado - ,
começa a receber certas facilidades e assistência que, de outra
maneira, não lhe seria possível alcançar, devido às grandes
distâncias que forçosamente teria que percorrer até atingir um
local mais desenvolvido onde determinados serviços estão
disponíveis.
“assistência
a nível bancário”
O
discurso continua: Falta-lhes, entretanto, qualquer tipo de
assistência a nível bancário – o que obriga o homem
amazonense a deslocar-se em longas viagens de barcos perdendo às
vezes vários dias, até
chegar a uma cidade que tenha um banco onde realizar seus negócios.
Preocupado ante tal dificuldade, apressamo-nos em encaminhar ao Sr.
Ministro da Fazenda, Francisco Neves Dornelles, expediente onde,
modestamente, sugeríamos fossem feitos estudos sobre a viabilidade
da instalção de uma agência flutuante itinerante do Banco do
Brasil – ainda que em caráter experimental -, para funcionar nos
rios do Estado do Amazonas. Como alternativa, sugerimos a criação
de uma ou várias agências ou posto de atendimentos ao público da
região. A pioneira missão não necessariamente poderia ser
atribuída ao Banco do Brasil, caso não seja considerada oportuna
àquela entidade. Tanto o Banco da Amazônia quanto o Banco do Estado
do Amazonas poderiam, eventualmente, exercer a atividade proposta.
Temos plena confiança de que o Ministro da Fazenda e as autoridades
do Conselho Monetário Nacional serão sensíveis ao atendimento do
pleito em tela, pela importância e os inegáveis benefícios que a
sua concretização traria para o Amazonas. Uma agência itinerante,
nos moldes do ora propostos, prestando todos os serviços bancários,
contribuiria certamente para resolver uma angustiante aspiração do
homem amazonense.
18.09.12
Thomaz Antonio Perez da Silva
Meirelles, administrador, servidor público federal, especialista na
gestão da informação ao agronegócio
e-mail para:
thomaz.meirelles@hotmail.com
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