quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Reflexões sobre o XII Seminário da FAEA (2) - Artigo publicado no JC


AGRONEGÓCIOS
Reflexões sobre o XII Seminário da FAEA (2)

Conforme anunciado no artigo da última semana, volto a fazer alguns comentários sobre assuntos que foram temas do excelente seminário recentemente promovido pelo Sistema FAEA/SENAR. Assim como poderia ter sido escolhido nosso cacau nativo (que já tem a experiência da Ceplac e um Brasil importador desse produto) o Amazonas Rural acertou ao priorizar a piscicultura  como atividade que pode gerar o tão sonhado emprego e renda no interior do estado. Entretanto, no caso da piscicultura, como sempre lembra o próprio secretário de pesca, Geraldo Bernardino, sem a garantia do abastecimento interno do milho para reduzir o custo da ração e, com isso, ganharmos competitividade no preço final de comercialização do pescado (tambaqui, matrinxã etc) o sucesso da atividade pode ficar comprometido. Pensando na regularidade desse abastecimento, o presidente do Sistema FAEA/SENAR, Muni Lourenço, esteve, na última semana, em audiência com o ministro Mendes Ribeiro/MAPA reivindicando a disponibilidade de aproximadamente 40 mil toneladas de milho ao criadores rurais do Amazonas e, também, a inclusão da piscicultura nos leilões de estoque público e no Programa de Vendas em Balcão da Conab. Como dito no artigo passado, essa dependência de milho de outros estados é perigosa, pois em momentos de crise nacional ou internacional os estados produtores seguram a produção do milho para abastecer o mercado interno. Nesse aspecto, entendo que o Amazonas precisa se orientar no ZEE (Zoneamento Ecológico Econômico) e no ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático) para cultivar o milho em nosso solo e garantir a soberania alimentar local.


Estrutura da SEPA e Comercialização

Outro fato que merece atenção e reflexão diante do desafio de atingir 100 mil toneladas de pescado/ano é a atual estrutura da secretaria executiva estadual de pesca e aquicultura, comandada pelo competente técnico Geraldo Bernardino, Ivo Calado e toda sua equipe de auxiliares e técnicos. No meu entendimento, reforçar essa equipe seria o primeiro e mais importante passo a ser dado pelo Amazonas Rural. Também tenho observado que alguns grupos formais localizados nos municípios de Benjamin Constant, Careiro da Várzea, Tefé e Silves estão tendo dificuldades na comercialização do pescado. Além do alto custo da ração, a produção pode estar excedendo o consumo local. A concorrência com a pesca artesanal em algumas épocas do ano (safra) e, também, a inexistência de beneficiamento e o escoamento para os municípios vizinhos e para Manaus são entraves identificados. Por meio do Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal, integrante dos Programas Fome Zero e do Combate à Extrema Pobreza, a Conab vem recebendo propostas das  associações que estão passando por entraves no momento de negociar a produção e comprando o tambaqui curumim com preços variando entre R$ 3,80kg e R$ 4,00kg. O PAA é justamente para esses momentos difíceis, mas jamais poderá ser considerado como destino único das atividades produtivas. Dos municípios listados, Benjamim Constant (já no terceiro projeto do PAA) e Careiro da Várzea (ao lado do maior centro consumidor/Manaus) são, no meu entendimento, os que merecem uma análise mais aprofundada do setor a fim de identificar os verdadeiros obstáculos enfrentados pelos piscicultores no momento da venda.

Heveicultura no Amazonas

Este foi outro grande tema debatido no seminário da FAEA e brilhantemente apresentado pelo professor Verano Heron Junior. É sabido que o Brasil é um grande importador de borracha e que o extrativismo não será capaz de atender a demanda interna em curto tempo mesmo recebendo subvenção do governos federal, estadual e municipal. Pelo que ouvi do professor Verano é perfeitamente possível plantar seringueiras nas terras degradadas do Amazonas, mas a pergunta que faço é a seguinte: Será que o governo que vai apoiar uma atividade que só começa a gerar renda após 6 (seis) anos, uma vez que os mandatos são de quatro anos? Felizmente de Palmas, no estado de Tocantins, vem um bom exemplo de ação de longo prazo. Notícia divulgada no site do MDA diz que, em Tocantins, o  cultivo de seringueiras será implantado em áreas degradadas nos assentamentos, utilizadas no passado para a produção agrícola ou pastagem, com o objetivo de assegurar o reflorestamento dessas terras e o desenvolvimento de outra atividade econômica como fonte de renda. A iniciativa busca estimular os agricultores assentados a plantar dois hectares com seringueiras para a produção de látex. Os interessados vão receber capacitação, assistência técnica, crédito e ações de apoio à comercialização. A produção de borracha tem início sete anos após o plantio das seringueiras, com expectativa de extração de três a quatro toneladas de látex por hectare. Hoje, o custo de implantação do projeto é de R$ 15 mil por hectare e a expectativa de renda é de dois salários mínimos mensais por hectare, durante a fase de extração. Os agricultores interessados podem utilizar linha especial do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf Eco Seringueira) para financiamento do cultivo, com concessão de até R$ 80 mil por mutuário e juros de 2% ao ano.

Cadastro Ambiental Rural (CAR)

A apresentação do presidente do IPAAM, Ademir Stroski, e da técnica Silvana Pimental, foi bastante esclarecedora, contudo, achei que o processo de adesão ao CAR tem certa complexidade para o produtor rural e pode comprometer, mesmo com parcerias importantes, a necessária e indispensável abrangência.

 
30.10.12

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

 

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