AGRONEGÓCIOS
Reflexões sobre a cadeia de fibras no AM (1 Parte)
Novos dados
ligados à cadeia de fibras (malva e juta) foram divulgados na última semana. Um
deles foi disponibilizado pelo servidor estadual Zacarias Gondin, meu amigo e profundo
conhecer da realidade dos juticultores, informando os números finais da
produção de fibras no Amazonas. Alcançamos 6.571 toneladas negociadas com a
Jutal, Cooperjuta, Coomapem, Cooperfibras e CTC. A outra notícia veio de
Brasília, do analista Ivo Naves/Conab, confirmando os preços mínimos para a
próxima safra/2014 (R$ 1,96 kg fibra embonecada e R$ 2,17 kg fibra prensada).
Essas informações me levaram a refletir sobre o que houve e o que estar por
vir. A safra encerrada foi marcada por fatos que desanimam todos os elos da
cadeia em continuar a atividade no Amazonas. Entre eles, destaco o baixo preço
recebido pelo juticultor; a inexistência de armazéns públicos (os atuais estão
comprometidos com a estocagem de alimentos para indígenas, quilombolas,
emergências e, ainda, para estocagem de milho para os criadores rurais);
inexistência de armazéns privados (não possuem a certificação exigida pelo
MAPA); importação de matéria prima que prejudicou a indústria nacional; a
lentidão estadual para o pagamento da subvenção; conflituosa distribuição de
sementes e o lamentável incêndio ocorrido no armazém da Coomapem. Pra não
perder o ano, entendo que a maior participação do Amazonas no Comitê Nacional
de Fibras Naturais, a reorganização do Comitê Estadual e a divulgada compra de
sacaria biodegradável pela Conab para utilização no estoque público ainda nos
levam a acreditar no futuro dessa atividade em nosso estado. É bom ressaltar
que a inexistência de armazéns privados certificados impediu a compra da
produção pelo Governo Federal (PGPM/AGF). É verdade, também, que somente após o
término da presente safra o MAPA estendeu a exigência da certificação para o
próximo mês de janeiro/2014. A seguir, alguns comentários sobre armazenagem.
12 anos atrás, extinção
dos armazéns
Em 12 de
novembro de 2001, passados 12 anos, e dois anos antes do presidente Lula
assumir, o jornal Em Tempo estampava em primeira página a seguinte manchete “Conab
fecha suas portas. Estatal desativa o último armazém no Amazonas”. Naquela
altura, somente o Dr. Eurípedes Lins, representando o Sistema FAEA/SENAR, e os
servidores da Conab lutaram, e muito, para que isso não viesse a ocorrer. Nessa
mesma edição tem uma foto que registra toda essa luta. Lá estava eu, Cleto,
Raimundo, Armando, Ferreira e Beto lutando para a Conab não acabar. Evitamos a
extinção, mas perdemos quase que a totalidade das nossas Unidades
Armazenadoras. Esse fato mexeu muito comigo, pois foi meu pai, Ubaldino
Meirelles, que, em 1982 (32 anos atrás), na condição de deputado federal,
conseguiu sensibilizar o ministério da Agricultura a investir na construção de
vários armazéns na capital e interior. Enfim, chegava a hora de o Amazonas
pensar na soberania alimentar de seu povo. Infelizmente, nada aconteceu!
Desde 1982, o estado não
fez sua parte
Lembro ainda muito
bem, mesmo passados 30 anos (tinha apenas 20 anos), começando a vida
profissional, o que mais ouvia era a seguinte frase “O Amazonas não produz alimentos
básicos porque não tem onde beneficiar e armazenar”. Bem, naquela
altura a alegria era grande, pois chegava a hora e a oportunidade de o Amazonas
pensar na soberania alimentar de seu povo. Infelizmente nada aconteceu, e a
história não nega. Os armazéns vieram, mas não foram suficientemente
utilizados, o estado não fez sua parte, e até hoje não acredita no potencial do
setor. Com isso, a luta incansável do Dr. Eurípedes Lins e dos servidores da
Conab para manter as unidades armazenadoras não teve êxito. Desde então, e mais
fortemente nesta coluna do centenário JC, venho sempre alertando para a questão
da importância da armazenagem no Amazonas. Na coluna da próxima semana volto a
falar nesse tema para apresentar algumas propostas.
Faltam direção e
aproximação política
O comando
maior do estado e a classe política local ainda não acreditam que o setor
agropecuário local pode substituir o modelo econômico do Polo Industrial de
Manaus, nem dedicam tempo para esse fim. Reconheço avanços positivos no setor
primário, mas pontuais e insuficientes, privilegiando poucos, em detrimento da
expressiva maioria dos amazonenses. Na homenagem ao Dia do Agricultor, o
plenário da assembleia contava com apenas três deputados estaduais e nenhum da
área federal. Na última semana, quando o assunto foi a prorrogação dos
incentivos do PIM/ZFM tínhamos quase toda a bancada federal, vice-governador e
vários estaduais no plenário. No meu entendimento, as presenças aos dois
eventos demonstram claramente que o setor rural não desperta interesse. Será
que a culpa não é nossa? Será que não estamos sabendo articular esse apoio? O Vizolli
tem sempre dito que essa distância precisa ser menor. Concordo plenamente com o
presidente do IDAM. O professor José Melo, vice-governador, em discurso na
ALEAM, disse, fazendo referência ao modelo da ZFM/PIM que o Amazonas é um homem
forte, mas com uma perna só (é fácil pegar uma rasteira de São Paulo) e que não
aproveitamos as potencialidades sustentáveis para diminuir essa dependência do
PIM. Essa afirmativa é a pura verdade, mas qual a razão de não ouvir mais
atentamente o setor primário local? Repito, será que o problema é nosso? É bom refletirmos! Minha querida mãe Nazaré,
parabéns pelos seus 76 anos, muito obrigado pelo que já fez, faz e ainda fará
por mim e pela nossa família. Te amo muito!
03.09..2013
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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