terça-feira, 12 de março de 2013

Artigo do Jornal do Commercio - "A prioridade deve ser outra"


AGRONEGÓCIOS

A prioridade deve ser outra 

Na sede do governo estadual, em evento que contou com a presença do governador Omar Aziz, o Sistema Sepror, comandado atualmente pelo secretário Eron Bezerra, lançou o projeto Residência Agrária que pretende levar acompanhamento especializado e transferir tecnologia para o nosso caboclo. Sem dúvida, uma ótima iniciativa, mas sem levar em consideração a dimensão amazônica poucos serão os beneficiados e a economia local continuará nas mãos do Polo Industrial de Manaus (PIM). Ao longo dos últimos dez anos, venho defendendo que o primeiro passo do meu estado na consolidação sustentável do setor primário regional está ligado diretamente a dois zoneamentos. O econômico ecológico (ZEE), de responsabilidade do Estado/SDS. E o Agrícola de Risco Climático (ZARC), cuja execução é da EMBRAPA. Finalizado o ZEE (que se arrasta há anos), e iniciado o ZARC, teremos exatamente respondido as seguintes questões: Onde plantar? O que plantar? Quando plantar? Quando Colher? O meu Amazonas é o único estado do Brasil que não possui uma cultura agrícola com essas respostas em caráter oficial. E tem mais, sem essas respostas, que são dadas pelo ZARC (Zoneamento Agrícola de Risco Climático), jamais nossos produtores serão beneficiados com o seguro rural. Recomendo que acessem o site do ministério da Agricultura para confirmar se é verdade o que estou afirmando. A imediata aplicação dessas importantes ferramentas ajudarão sobremaneira os produtores e as instituições públicas, pois ficarão sabendo qual espaço nos resta para fazer agropecuária no Amazonas. Caso contrário, continuaremos atirando para todos os lados, beneficiando poucos e se distanciando da tão sonhada soberania e segurança alimentar. A efetiva aplicação do ZEE e do ZARC será o verdadeiro início do nascimento do novo modelo econômico que substituirá o atualmente implantado no PIM.  Essa é a prioridade, no meu ponto de vista.
 

Teoria e Prática

Quando cheguei ao evento, já atrasado, a palavra estava com a Izete, representante da Fettagri/AM. O Muni, presidente do Sistema FAEA/SENAR, já havia falado. Pela segunda vez consecutiva (a primeira foi na presença do ministro do MDA no lançamento do Plano Safra), a Izete foi extremamente feliz nas argumentações, lembrando, inclusive, que o CEDRS precisa reunir regularmente. A ausência de debates no âmbito do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável mostra que, de fato, o setor está atirando para todos os lados, sem debate, sem entendimento, sem direção. É fato, também, que as reuniões devem ser mais produtivas. O Eron, que para mim deveria ter assumido a cadeira de deputado federal e indicado seu substituto na Sepror para não prejudicar o projeto/2014,  nos fez lembrar que a área governamental de produção no Amazonas tem 57 anos de existência. Uma triste estatística para um estado importador de alimentos básicos, mesmo tendo potencial e gente querendo trabalhar no interior do estado. Sendo assim, é fácil concluir que são anos de muita teoria e de pouca prática. Com o capital humano e financeiro que dispõe, entendo que o Eron tem feito o que pode, mas sabe que essas ações não serão suficientes para realizar o sonho do governador que o indicou inicialmente para a Sepror. O ex-governador e atual senador Eduardo Braga, no primeiro dia no comando do executivo estadual, declarou o desejo do Zona Franca Verde (ZFV) ser o modelo que iria substituir o implantado no PIM. Tivemos e temos várias ações significativas, mas nenhuma na dimensão que sonhamos e necessitamos para alcançar esse modelo. Falta estrutura física, pessoal e financeira. O setor primário é consenso, mas ainda não é prioridade, infelizmente.
 

Palavras do Omar

Nosso governador, a quem aproveito para agradecer o pedido que fez ao presidente da Conab para eu permanecer na superintendência do órgão no Amazonas (atendendo pleito de vários amigos do setor rural e da assembleia), falou no potencial pesqueiro, nos pequenos exemplos implementados na área rural que não levam a lugar algum, nas áreas degradadas, na pobreza de produção do Alto Rio Negro, no entrave ambiental, na produção de borracha que não aumenta e no financiamento ao caboclo. Bem, eu poderia comentar item a item, mas vou ficar com o último, o financiamento. Quero dizer que a Afeam/Idam faz o que pode na área rural, e penso até que aplica uma boa quantia de crédito rural. Mas, meu caro governador, penso que o senhor ainda não sabe que a aplicação do Pronaf no meu Amazonas é inaceitável, em número e em qualidade. É só acessar o site do MDA e comprovar. A culpa é exclusivamente da ausência de agências do Banco do Brasil e da Amazônia na expressiva maioria dos nossos municípios. Somos o maior estado do Brasil, mas com o menor número de agências. Enquanto a imprensa divulga lucros expressivos das instituições financeiras, nossos agricultores sequer possuem uma agência para visitar. Finalizo, sugerindo ao governador Omar reivindicar que parte dos doze bilhões de lucro do Banco do Brasil sejam transformados em agência em Juruá, Envira, Guajará, Barreirinha etc etc etc. Esses guerreiros que preservaram a floresta para a humanidade precisam ter o dinheiro do Pronaf no bolso para plantar, colher, comer e vender. E assim, viver melhor e evitar o êxodo rural.
 

05.03.13

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

 

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