AGRONEGÓCIOS
Só se fala em Piscicultura
O “Amazonas Rural” do governador Omar Aziz e do
secretário Eron Bezerra está focado na criação de peixes no Amazonas. O assunto
é notícia em todos os meios de comunicação. No mundo, penso que nenhum lugar
tem potencial superior ao nosso para desenvolver a piscicultura, contudo, para
que atividade possa gerar emprego, renda e contribuir para a segurança
alimentar local alguns temas precisam ser amplamente discutidos e avaliados. Caso
contrário, toda essa “onda” poderá ter o infeliz final do projeto de tanque
rede implementado no Lago do Piranha, em Manacapuru, que endividou várias
famílias da comunidade do Betel (algo na ordem de R$ 20 mil/cada unidade
familiar). No meu ponto de vista, para
que a criação de peixe tenha sucesso no Amazonas três importantes ações devem
ser adotadas. São elas: incentivar a produção interna de milho nas áreas de
várzeas (usando tecnologia já disponível na Embrapa) para uso na ração; incluir
a piscicultura no programa de Vendas em Balcão e nos Leilões do Governo Federal
para que a Conab possa vender milho para os criadores de pequeno, médio e
grande porte (A Conab/AM defende a inclusão, mas os demais atores devem
participar mais ativamente dessa luta que ainda não foi vencida) e, também, reivindicar
a inclusão do tambaqui na PGPM a fim de que, em momentos de grande produção,
possamos utilizar os instrumentos dessa política para escoar a produção para
outras regiões (PEP, VEP, PEPRO e outros). A produção de milho em Rondônia é 15
vezes maior que a do Amazonas (550 mil t em RO) / 36 mil t no AM). Será que
esse dado explica a diferença no preço final da ração? Outros assuntos precisam
ser estudados, principalmente os de Benjamin Constant e Careiro da Várzea cujos
criadores estão encontrando dificuldade no momento da comercialização. A saída
tem sido o PAA (Doação), mas que só beneficia o criador de pequeno porte e que
já possui a DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf). Para o médio e grande
criador, esclareço que PAA não tem essa abrangência. Nesse caso, só a inclusão
do tambaqui na PGPM tradicional (ainda não existe) poderá ter condições de
apoiar no momento que o mercado local estiver abastecido e com baixos preços.
Estou falando em algo semelhante ao que ocorre com os produtores de uva do sul
brasileiro. Só que a uva já faz parte da PGPM, conquista da Região Sul.
Em 29/09/2009, esta coluna fazia o seguinte registro...
“Na última sexta-feira, no auditório do
Parque de Exposição Agropecuária “Eurípedes Lins”, fiquei extremamente
preocupado com o futuro da piscicultura empresarial amazonense. Grandes
empresários do setor de criação de peixes, presentes ao evento promovido pelo
Sistema Sepror (Geraldo Bernardino/Alfeu/Claret), foram taxativos e
convincentes ao afirmar que a entrada irregular de produtos da piscicultura de
Roraima e Rondônia, sem a devida fiscalização do Estado, levará ao encerramento
da atividade ainda este ano. Pensam, inclusive, em transferir o empreendimento
para os estados vizinhos em decorrência da flexibilidade na questão ambiental e
do acesso a ração com menor custo. Segundo informações, o tambaqui de
piscicultores de Rondônia também está abastecendo os mercados dos municípios
localizados no Rio Madeira, e que o preço praticado no mercado de Manaus, por
Rondônia e Roraima, está abaixo do custo de produção dos piscicultores
amazonenses. Contudo, nossos empresários não estão pleiteando nenhum benefício
financeiro do governo (subvenção, subsídio etc) querem, apenas, que a entrada
do pescado seja efetivamente fiscalizada e que atenda aos padrões de qualidade
das normas sanitárias. Ao final dos debates, o secretário Geraldo Bernardino
assumiu compromisso de encaminhar relatório ao secretário de produção rural e
ao governador do estado detalhando os entraves que o setor vem atravessando. Os
empresários afirmaram, também, que a piscicultura familiar é uma grande
enganação. Além da Conab, o debate sobre a cadeia produtiva do pescado contou
com a presença do Mapa, ADS, MPA, Ibama, Idam, Codesav, armadores e
empresários”.
4 anos depois, será que o quadro mudou?
A crise relatada acima ocorreu em 2009. Será
que a situação mudou? Atualmente, a imprensa divulga que estão chegando novos
investidores; que o governo estadual vai subsidiar a ração e que realizou
estudos técnicos que garantem a viabilidade do atual projeto. Pergunto: Será
que a ração é subsidiada em Rondônia e Roraima? Será este o motivo do baixo
custo? Será que os piscicultores estão cientes dos parasitas que estão atacando
o tambaqui? Na última reunião do CONEPA, semana passada, a doutora Ana Lúcia,
da UFAM, apresentou esse triste quadro, mas que felizmente não prejudica o
consumidor. Em 1988, o professor Rosalvo Machado Bentes no trabalho titulado “A
crise do setor primário amazonenses: 25 anos de decadência econômica, desemprego
na agricultura e redistribuição da população” já dizia que o mercado de Manaus
poderia ser abastecido pelas áreas mais próximas com destaque para o arroz,
feijão e milho (para a produção de ração). Lamentavelmente, o tempo passou, e
não seguimos a orientação do professor Rosalvo. Hoje, a única certeza é a de
que temos potencial, mas será que o caminho escolhido pelo “Amazonas Rural”
está correto? Espero que sim, para que não volte a acontecer o endividamento de
produtores semelhante ao ocorrido no Lago do Piranha.
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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