terça-feira, 25 de junho de 2013

Jornal do Commercio (Artigo sobre o cacau na PGPMBio)



Esse trabalhador merece seu produto na PGPMBio
 
 
AGRONEGÓCIOS

Cacau nativo fora da Política de Preço Mínimo

É mais uma luta antiga e justa que venho defendendo há bastante tempo, mas que só encontrou receptividade nos governos Lula/Dilma. Não sou PT, mas é uma verdade incontestável. Contudo, na última semana, soube informalmente que a inclusão do cacau nativo na PGPMBio (Política de Garantia de Preço Mínimo de Produtos da Sociobiodiversidade) que ampara povos e comunidades tradicionais deverá ser adiada deixando-os  reféns das oscilações de preço do mercado. Não concordo com essa atitude de setores do governo, principalmente da equipe econômica. As questões que envolvem o atual momento e seus necessários ajustes não devem e não podem quebrar do lado mais fraco. O povo da floresta não pode pagar essa conta. Eles não merecem! A Ceplac e a Conab já realizaram um belo trabalho de campo, identificaram qual seria o preço a ser proposto para a PGPMBio e constataram a necessidade do pagamento da subvenção federal em razão do mercado estar pagando preços baixos em determinadas regiões. É bom lembrar que essa importante política já contempla a borracha, castanha-do-brasil, açaí e piaçava. Por falar em piaçava, esclareço que, depois de inúmeras ações na região do Rio Negro, em maio passado foram pagas as primeiras subvenções para os extrativistas dessa fibra.

Nascimento da ideia

A ideia de inclusão do cacau nativo na Política de Preço Mínimo de Produtos da Sociobiodiversidade nasceu quando eu retornava do Festival Folclórico de Parintins a bordo do confortável navio “Dona Carlota”. Quem já fez essa viagem, esse trajeto, sabe que os ribeirinhos, em suas canoas, aguardam ansiosos a troca de presentes. Os turistas lançam de tudo nas águas barrentas do Rio Amazonas: bolas, bonecas, biscoitos, café, açúcar, lamparina, roupas etc. No entanto, observei que os humildes ribeirinhos, num gesto de agradecimento, têm a oferecer somente o cacau (fruto), produto que o Brasil importa grandes quantidades e é a origem do saboroso chocolate. O cacau é a matéria-prima principal de luxuosas casas que comercializam o tradicional chocolate quente e/ou gelado nos shoppings existentes em todo o mundo, mas, com todo esse potencial, o ribeirinho continua tendo uma vida simples, repleta de adversidades e não recebe preço justo no momento da comercialização da amêndoa. A PGPMBio poderia virar esse jogo. Na sequência, aproveito trechos da fundamentada nota técnica elaborada pelo amigo, parintinense e atual gerente da Ceplac/AM, Valdenor Cardoso, carinhosamente chamado de “Bolacha”, para ratificar, ainda mais, a necessidade de ver o cacau nativo na PGPMBio.
 
Potencial e Importância Social

É de conhecimento público, e de importância socioeconômica e socioambiental relevante, a incidência de cacaueiros silvestres nas várzeas das calhas dos rios Amazonas, Madeira, Solimões, Purus, Juruá, Japurá, e seus afluentes. O potencial de maciços florestais com cacaueiros existente nas calhas dos rios é da ordem de mais de 25 mil hectares e produção nas várzeas manejáveis do estado podendo alcançar a cifra das dez mil toneladas, o que poderá significar a produção de cerca 5% da produção brasileira hoje. A maioria dos municípios que possuem maciços florestais com cacaueiros nativos nas várzeas não dispõe de outros Arranjos Produtivos Locais baseados na agricultura produtivista e muito menos na agricultura de base ecológica, como é o caso do cacau nativo das várzeas. Esse fato é de grande relevância para os municípios porque evidencia a oportunidade de se desenvolver uma atividade a partir do uso sustentável dos recursos naturais já disponíveis, bastando para tanto a estruturação de um sistema de Assistência Técnica e Extensão Rural aos Produtores; a Organização da Produção e o apoio na Comercialização da Produção.  A retrospectiva histórica das últimas quatro décadas revela que as ideias tecnicistas para a agricultura da Amazônia nunca vislumbraram as várzeas como ecossistemas apropriados para o desenvolvimento sustentável da região. Contudo, essa economia cacaueira existe há quase quatro séculos e tem grande importância regional por preservar as matas ciliares dos grandes rios e, em decorrência, sua biodiversidade, evitar o êxodo rural e o avanço do desmatamento; por proporcionar alternativa segura de renda para o ribeirinho. Além do mais, disponibiliza matéria-prima eminentemente orgânica e livre de agrotóxicos, e, possibilita o envolvimento de famílias indígenas e de produtores ribeirinhos tradicionais, através da mão de obra familiar (pais, filhos, filhas) e feminina com intensa participação do gênero, que geralmente não participa das outras atividades produtivas realizadas nessas condições, o que assegura a inclusão social.
 

CNS e FAEA

O Amazonas unido deve pressionar os ministérios da Agricultura e Fazenda. Sei que o CNS e a FAEA farão documento conjunto nesse sentido, mas o governador e toda bancada federal também devem tomar a mesma iniciativa. Os extrativistas de cacau nativo merecem e necessitam do apoio da PGPMBio. Vamos esquecer temporariamente a luta pelo PIM/ZFM, e lembrar que o público alvo do ZONA FRANCA VERDE, idealizado pelo senador Eduardo Braga, e do AMAZONAS RURAL, implementado pelo governador Omar Aziz, está precisando de nossa ajuda e atenção.
 

25.06.2013

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

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