Heloisa Cristaldo
Enviada Especial da EBC
Enviada Especial da EBC
Jaguariúna (SP) – As armas biológicas, com seus efeitos devastadores e
desconhecidos pela maioria dos pesquisadores e cientistas, podem ser
consideradas as mais temidas existentes. Ao serem transformados geneticamente em
laboratórios, vírus e bactérias tornam-se mais resistentes aos tratamentos
médicos. Ao mesmo tempo, esses micro-organismos podem matar ou incapacitar
pessoas, animais e plantas.
A história mostra que o uso desse tipo de arma não é recente. Na Antiguidade,
exércitos usavam cadáveres em estado de putrefação para contaminar o
abastecimento de água de uma cidade ou jogavam por cima das muralhas inimigas
cadáveres de vítimas de varíola ou de peste bubônica.
O aspecto mais sombrio e negativo de micro-organismos foi mostrado no filme
Anthrax – A Arma Terrorista. A bactéria antrax é roubada de um
laboratório de pesquisas agrícolas deixando uma comunidade aterrorizada, já que
uma pequena dose do bacillus anthracis – nome científico - é suficiente
para devastar a população de uma cidade inteira.
Em
Jaguariúna (SP), ao contrário do roteiro do filme, vírus e bactérias tem a
capacidade de tornar-se produtos benéficos para o ser humano. Corantes,
cosméticos para clarear a pele, herbicidas, antibióticos para combater bactérias
resistentes e remédios para tratamento de câncer são alguns dos produtos que
podem ser desenvolvidos a partir de fungos, bactérias, vírus e leveduras, itens
da primeira coleção de micro-organismos implementada pela Embrapa Meio
Ambiente.
“É um tesouro, matéria-prima para descoberta de novos materiais bioativos,
fármacos, produtos para a agricultura, para a medicina, para os cosméticos.
Esses micro-organismos tem demostrado seu potencial e são avaliados aqui no
laboratório”, explica o curador da coleção, o pesquisador Itamar Melo.
O banco de recursos genéticos reúne micro-organismos de ecossistemas como
Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica e a Antártida. Os materiais são preservados
em refrigeradores e cilindros com nitrogênio líquido em temperaturas de até 180
graus negativos. Nessas condições, a coleção pode ser mantida por até 100
anos.
Segundo o pesquisador, os micro-organismos são retirados de plantas, algas e
pedaços do solo e aproveitados para estudos em diversas áreas. A coleção também
preserva o material genético de plantas em extinção e identifica fungos e
bactérias desconhecidos.
A pesquisa com bactérias e fungos retirados de áreas da Antártida mostrou que
esses materiais são resistentes aos raios ultravioleta e podem produzir filtros
solares mais resistentes. As áreas são escolhidas a partir de seu potencial,
como a resistência à falta de água nos solos da Caatinga.
“Nós
temos trabalhado há mais de dez anos com a Mata Atlântica, atualmente
[trabalhamos] com a Caatinga, onde temos interesse em buscar micro-organismos
tolerantes à seca. Pesquisamos as cactáceas que sobreviveram a esta última seca,
uma das mais intensas dos últimos 50 anos”, diz Melo.
O próximo passo da pesquisa é identificar micro-organismos de outros biomas
brasileiros, como o Cerrado e o Pantanal. Para que os produtos cheguem ao
consumidor, indústrias devem manifestar interesse em desenvolver a tecnologia
pesquisada. Atualmente, um herbicida com ação menos tóxica ao meio ambiente já é
produzido a partir de bactérias da coleção de micro-organismos preservados pela
Embrapa.
Edição: Marcos Chagas
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