Dar conta da expansão demográfica até 2050, com
incremento esperado de mais de 2 bilhões de pessoas no mundo, é um dos
principais desafios impostos aos produtores de alimentos. Esse é um discurso
conhecido de cor e salteado no agronegócio, mas como solucionar os gargalos a
fim de corresponder a essa demanda? Para auxiliar nesse processo, o Economist
Intelligence Unit (EIU) e a Dupont divulgaram ontem, em São Paulo, a primeira
edição do Global Food Security Index. O estudo analisa o desempenho de 105
países em relação à segurança, qualidade e disponibilidade alimentar. O Brasil,
tido como um importante fornecedor em escala global, figura na 31ª
posição.
O levantamento leva em consideração 25 indicadores, como
desempenho da economia, investimento em inovação e qualidade da infraestrutura.
Cada participante recebeu uma nota de zero a 100. Os brasileiros somaram 67.6,
resultado inferior, na América Latina, frente ao Chile (68.9) e ao México
(67.7). Entre os pontos fortes do Brasil estão o desenvolvimento de programas
voltados à área, como o Fome Zero, e o compromisso com padrões nutricionais,
ambos avaliados em 100. Por outro lado, a infraestrutura agrícola foi o item com
pior avaliação, 19.4. Nos três eixos da pesquisa analisados separadamente, a
situação do Brasil se encontra na média: disponibilidade de alimentos (71.2),
acessibilidade financeira à comida (63.4) e qualidade da segurança dos produtos
(69.9). “É bom que nossa posição no ranking geral seja 31º. Se estivéssemos nas
primeiras colocações, iríamos deitar em berço esplêndido e não teríamos desafio
algum. Agora, precisamos olhar o que os países que estão em cima fazem de
diferente e tropicalizar isso”, acredita o presidente da Dupont no Brasil,
Ricardo Vellutini.
O coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação
Getulio Vargas (FGV), Roberto Rodrigues, diz que o Brasil tem um grande
potencial para expandir a produção, nos próximos dez anos, em itens como soja,
milho e carnes. Segundo projeção feita por ele, o volume produzido até 2020 no
País deve crescer 40%, o que representaria a maior ascensão mundial no período.
Mesmo assim, Roberto Rodrigues aponta uma série de fatores a serem
corrigidos no Brasil, sendo a estrutura de hidrovias, ferrovias e estradas o
principal problema do momento. Para ele, inovação, segurança jurídica, apoio à
agricultura familiar e estratégias de comercialização internacional são outras
questões cruciais para melhorar o ambiente de negócios.
“Agora é o
momento de começar a resolver essas questões e criar uma estratégia integrada
para o setor agrícola”, aponta, salientando que a valorização de algumas
commodities neste ano deveria acelerar a realização de melhorias, e não
postergá-las.
Um dos aspectos com maior peso no ranking é o investimento
em pesquisa e desenvolvimento de produtos, item em que a América Latina como um
todo ainda está devendo. Neste sentido, o presidente mundial da Dupont Pioneer,
Paul Schickler, aponta a necessidade de uma integração maior entre
universidades, empresas e entidades ligadas à atividade. “A tecnologia e as
colaborações precisam ser desenvolvidas localmente”, ressalta. No caso da
Dupont, a intenção é investir US$ 10 bilhões globalmente em P&D; até
2020.
O dirigente do EIU Unit Robert Wood destaca que, em todas as nações
com melhores resultados no demonstrativo, existem características em comum.
“Nesses países, há amplo abastecimento, baixo custo para o consumidor e grandes
investimentos em pesquisa e desenvolvimento”, destaca. O Global Food Security
Index está disponibilizando o estudo, na íntegra, na internet
(foodsecurityindex.eiu.com). Em relação aos indicadores de preços alimentares, o
estudo deve receber atualizações a cada três meses.

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