01/08/2013 - 13h09
Fernanda Cruz
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Incentivar a agricultura familiar, diminuindo sua dependência em
relação às grandes corporações do setor, valorizar o papel da mulher no campo e
garantir o diálogo entre o pequeno produtor e o meio acadêmico são temas
discutidos no 3º Encontro Internacional de Agroecologia, que está sendo
realizado pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, a 250
quilômetros da capital.
O evento visa a promover um debate pluralizado, que envolverá de renomados
cientistas a agricultores de baixa renda. “A participação dos agricultores na
construção do conhecimento científico, não pode ser isolada. Depende de uma
integração do saber dos agricultores, que conhecem muito bem o seu sistema de
produção, e os cientistas que estão estudando isso. Precisa haver um diálogo
melhor entre o conhecimento popular e o científico”, destaca Rodrigo Machado
Macedo, professor da Unesp e um dos coordenadores do evento.
O encontro, que começou ontem (31) e termina no sábado (3), tem entre as
presenças mais aguardadas a ativista indiana Vandana Shiva. De acordo com o
professor Macedo, a ativista mostrará seu largo conhecimento científico para
sustentar sua posição que é contrária à apropriação que o grande capital faz das
sementes. “Ela tem muito argumento para desconstruir a ideia de que a gente
precisa das grandes corporações transnacionais de sementes e venenos agrícolas
para matar a fome do mundo”, disse ele.
Segundo Macedo, Vandana critica duramente a ideia de que seis ou sete
empresas no mundo são capazes de controlar os grandes elos da cadeia de produção
agrícola. Respeitada pela sua militância histórica, na década de 70, ela
participou do movimento Mulheres de Chipko, que amarravam-se a árvores para
impedir que fossem derrubadas e para protestar contra o despejo de lixo atômico.
Em 1993, recebeu o Right Livelihood Award, uma versão alternativa do Prêmio
Nobel da Paz.
Um dos princípios de Vandana é também defender a participação e os diretos da
mulher no campo. “Isso é importantíssimo para nós e está sendo bastante debatido
no evento”, ressalta o professor.
De acordo com a organização, cerca de 2 mil pessoas estão inscritas no
evento. Aproximadamente 300 são agricultores familiares de baixa renda, que
receberam alojamento e alimentação gratuitamente. Macedo destaca a importância
da presença desses produtores no evento, uma vez que 60% da alimentação básica
do brasileiro é proveniente da agricultura familiar. No entanto, quando se
compara com os recursos gerados por esse segmento, nota-se um grande
descompasso. Os pequenos produtores respondem por apenas 40% do valor bruto
oriundo da produção agrícola no país.
Além disso, apesar de 85% do total de agricultores do país serem familiares,
eles ocupam apenas 25% do território nacional e consomem apenas 25% do crédito
disponível. Alguns alimentos, como é o caso da mandioca, são produzidos
majoritariamente pela agricultura familiar, que chega a produzir, nesses casos,
80% desse tipo de produto.
A programação completa pode ser consultada no site do evento.
Edição: Valéria Aguiar
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