segunda-feira, 28 de outubro de 2013

"MESA BRASIL do Amazonas fez sua parte" - Artigo/Jornal do Commercio/AM

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AGRONEGÓCIOS
MESA BRASIL do AM fez sua parte
 
Num estado que importa 70% do que é consumido de alimentação básica, cuja farinha e a fécula de mandioca tem origem no distante estado do Paraná e, ainda, é abastecido por tambaqui de Rondônia e Roraima entendo que poderíamos ter dedicado mais importância ao Dia Mundial da Alimentação. Os absurdos não param por aí. Existem grandes suspeitas de uso abusivo e inadequado de agrotóxicos, extrema pobreza na área rural e um imoral sistema de desembarque de produtos regionais no Porto da Ceasa. A cidade de Manaus, apesar de estar entre as capitais mais importantes do país, sequer discute a agricultura urbana. Com tudo isso acontecendo, e em plena semana de reflexão sobre a soberania e a segurança alimentar e nutricional, o que mais se ouviu falar foi sobre a PEC da música. Aliás, nessa queda de braço nós já dançamos. Agora, aquele “som” produzido em estômago vazio (fome) foi praticamente esquecido no Amazonas importador de arroz, feijão, milho e farinha de mandioca. Outro assunto que ocupou os meios de comunicação foi a dança dos partidos. As autoridades locais não deram importância para promover o debate sobre a quantidade e a qualidade dos alimentos aqui produzidos, só quiseram saber quem vai para o PROS e quem é do “CONTRA”, mesmo estando ciente de que Manaus tem uma das cestas básicas mais caras do Brasil. A alimentação saudável e em quantidade suficiente para alimentar o povo amazonense infelizmente só está no discurso, mas deve ir para a prática o mais urgente possível se não quisermos ter surpresas desagradáveis no futuro.
 
ONU e FAO apresentam dados
 A ONU informou que 842 milhões de pessoas continuam privadas de quantidades suficientes de alimentos e que um terço dos alimentos ou 1,3 bilhão de toneladas equivalentes a US$ 750 bilhões são desperdiçados. Afirmou, também, que com um quarto desses números seria possível alimentar essas 842 milhões de pessoas. Os peritos da ONU estimam ser necessário um aumento de 60% da produção para responder às necessidades futuras da humanidade, um patamar insustentável para o planeta. Armazenamento e acesso ao mercado são as principais causas do desperdício e que a responsabilidade é do excesso de normas e regras devido a preocupações sanitárias ou estéticas. A FAO mostrou que a subnutrição abrange 26% das crianças que apresentam atraso no crescimento, e 1,4 bilhão de pessoas com excesso de peso, incluindo 500 milhões de obesos. Mesmo com esses números assustadores o Amazonas praticamente ignorou a existência desses graves problemas.
 
Mesa Brasil salvou o ano
Se não fosse a feliz iniciativa do programa Mesa Brasil/SESC do Amazonas em realizar o Seminário “Dia Mundial da Alimentação” com o tema “Sistemas Alimentares Sustentáveis para a Segurança Alimentar e Nutricional” esse importantíssimo assunto teria passado praticamente em branco. Tive o prazer de ser o mediador da mesa redonda que debateu o conteúdo de três estratégicas palestras. A primeira feita pelo Márcio Barros, agrônomo, servidor da Sepror, com o tema “Sistemas Alimentares Sustentáveis no Amazonas”. A segunda, da Embrapa, realizada pelo Raimundo Rocha, responsável pelo setor de Transferência de Tecnologia, com o tema “Estratégias de multiplicação rápida de variedades de mandioca para o aumento da produção de farinha e fécula no Amazonas”. Por último, a colega de Consea, Leida Reny Borges Bressane, nutricionista e conselheira do CFN, apresentou o tema “Ações do CFN voltadas para a promoção da Segurança Alimentar e Nutricional. O evento ocorreu no auditório da SEAS e foi aberto com mensagens da Graça Prola, Pedro Neto (Consea/AM) e Andrezza Litaiff (SESC). O resultado já era esperado. As tecnologias já disponíveis na Embrapa não chegam na ponta. O Sistema Sepror, principalmente o IDAM, precisa ampliar o seu quadro de técnicos. O Conselho Federal de Nutricionistas alertou e se comprometeu a acompanhar mais de perto a questão que envolve o uso de agrotóxicos no estado, em parceria com o Consea. Também ficou evidente que o atraso do Amazonas ao tema da segurança alimentar e nutricional deve-se à quase que exclusiva dedicação do poder político local em defesa do modelo da ZFM/PIM. Esquecem que a expressiva maioria dos amazonenses, principalmente os que vivem no interior e na periferia, não tem o privilégio de altas remunerações mensais, ou seja, não podem pagar R$ 10/15 reais num quilo de farinha de mandioca e tampouco colocar no prato diário as tão saudáveis e recomendáveis saladas.  Enquanto isso o que mais interesse são as fichas de filiação e a PEC da música. Também foi muito bom dividir este importante momento com os amigos e colegas de CONSEA, pessoas altamente comprometidas com a melhoria de vida da população mais necessitada. É uma luta de dez anos que tenho tido o privilégio de acompanhar guerreiras como a irmã Alzira, Miquelina, Pedro Neto, Adenilde, Neires, Cintia e tanto outros que o espaço não permite nominar. O caminho para tornar o Amazonas exemplo de segurança alimentar e nutricional é muito longo, mas vamos fazendo, e bem, a nossa parte. Parabéns à equipe do Mesa Brasil (Ellinaldo, Kelly, Monick, Janayne) pela iniciativa e organização.
 
22.10.2013
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
 

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