Pesquisadores dos Estados Unidos, França, Itália, Espanha e Brasil chegaram ao sequenciamento do genoma citrus, de acordo com estudo publicado na Nature Biotechnology neste domingo, dia 8. Com o resultado, a equipe espera desenvolver estratégias para melhoramento de citrus, como resistência ao huanglongbing (HLB), conhecida como greening, e outras doenças. Os representantes brasileiros são pesquisadores do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, e da Embrapa.
– Esse é um resultado que está sendo perseguido há vários anos por toda a comunidade internacional que trabalha em pesquisa com citrus. É um marco na história da pesquisa em citricultura – afirma Marcos Antonio Machado, pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento.
O grupo analisou e comparou as sequências do genoma de 10 diferentes variedades de citrus, incluindo laranjas, doce e azeda, toranjas e tangerinas. O objetivo dos cientistas é aplicar ferramentas genômicas e novas abordagens para compreender como surgiram as variedades de citrus e como elas respondem às doenças e a outros estresses ambientais, como o hídrico. Ao entender esse comportamento, a pesquisa poderá ser direcionada ao desenvolvimento de soluções para os desafios do setor citrícola, como o greening, que vem destruindo pomares de São Paulo e na Flórida, principais regiões citrícolas do mundo.
– O objetivo desta pesquisa, primeiramente, foi gerar um genoma de referência de alta qualidade, para tanto utilizamos uma espécie haploide (apenas um cromossomo de cada par) de tangerina Clementina. Depois, sequenciamos mais nove espécies de citrus, incluindo laranja doce e tangerina – explica
Machado afirma que a estratégia visou à obtenção de uma ideia sobre como uma espécie originou outra ao longo da evolução. O estudo mostrou que essas diversas
variedades analisadas são derivadas de duas espécies de citros selvagens, existentes no Sudeste Asiático há mais de cinco milhões de anos. Uma das sequências foi o genoma de referência de alta qualidade da tangerina Clementina.
Segundo o documento do consórcio, uma dessas espécies selvagens deu origem à toranja cultivada, o maior fruto de citros, podendo pesar de 500 gramas a um quilo. As pequenas tangerinas, bem conhecidas do consumidor brasileiro e facilmente descascáveis, resultam de misturas genéticas de uma segunda espécie e da própria toranja. A laranja doce, a variedade de citros mais cultivada em todo o mundo, é um híbrido genético complexo de tangerina e toranja, presumivelmente responsável por suas qualidades únicas. A laranja azeda, importante porta-enxerto usado na citricultura brasileira no início do século 20, seria um híbrido interespecífico independente.
A conhecida tangerina Ponkan também foi sequenciada. As análises revelaram que as toranjas representam uma espécie única de citrus. Essa mesma afirmação não pode ser atribuída às tangerinas cultivadas, que há tempos foram consideradas livres de mistura com outras variedades. Na pesquisa, a comparação entre as sequências das chamadas tangerinas "tradicionais", como a cultivar asiática Ponkan e a cultivar
mediterrânea Mexerica do rio, com tangerinas conhecidas para desenvolvimento de
híbridos, concluiu-se que todos contêm segmentos do genoma de toranja. O genoma da tangerina "selvagem" Mangshan da China revelou que ela é uma exceção à regra, por ser uma espécie separada de outras tangerinas cultivadas.
Os citrus formam o grupo de frutas mais cultivado no mundo. No Brasil, o setor citrícola movimenta cerca de US$ 5 bilhões, por ano, principalmente na produção e exportação de suco concentrado congelado e suco não concentrado. Nos EUA, a cultura foi avaliada em mais de US$ 3,1 bilhões em 2013.
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