Os fatos e mitos
sobre agrotóxicos no Brasil
26/03/12 - 10:57
Por * Eng. Agr.
José Annes Marinho
Recentemente, tenho observado
vários artigos relacionados ao tema agrotóxicos e muitos deles deveriam
informar a sociedade, mas infelizmente, cada vez mais, colocam as pessoas em pânico. Por que será?
Levar informações incorretas as pessoas é gratificante? Ou estas pessoas não
têm informações suficientes para posicionar-se sobre o assunto? Eu
particularmente gostaria que o tema fosse tratado de forma agradável, que o
mesmo pudesse ser entendido e baseado em ciência que ajudasse o produtor rural
a colocar alimentos de qualidade em nossas mesas.
Há muitos fatos que levam
pessoas que não conhecem cientificamente o tema, a discorrerem e buscarem
explicações, quase sempre, infundadas sobre esta tecnologia. Os agrotóxicos,
defensivos agrícolas, pesticidas, todas estas definições são sinônimos.
Portanto, se você for questionado a respeito destes nomes, saiba que está
falando do mesmo tema, apenas com designação diferente. No Brasil de acordo com
Lei 7.802 o termo aprovado foi “Agrotóxico”. Como em algumas discussões
calorosas, em geral, usamos a ideologia e esquecemos a ciência. No resto do
mundo o termo agrotóxico é chamado de pesticida ou “pesticide”. Neste contexto,
observamos alguns artigos, em especial, ao da “Revista Veja - A verdade sobre
os agrotóxicos” - baseado em ciência, consultando grandes cientistas que
respondem as principais dúvidas sobre o assunto para que as senhoras - donas do
lar, os senhores empresários, estudantes - que estão longe dos campos,
gostariam de entender sobre esta tecnologia que, felizmente, revolucionou a
agricultura brasileira. É fundamental que vocês saibam que estes produtos são
responsáveis por nossa alimentação.
Dados da ONU (Organização das
Nações Unidas) mostram que, se não existisse este tecnologia, cerca de 40% do
que é produzido de alimentos seria perdido. Porém, temos de respeitar as
opiniões contrarias a esta tecnologia, a exemplo quando o Brasil iniciou o
processo da biotecnologia. No entanto, felizmente quem predominou neste caso
foi à ciência. Senhoras do lar: não comemos “agrotóxicos” todos os dias, fiquem
tranqüilas. Recentemente, li uma publicação que recomenda comer somente
produtos orgânicos “recomendo que os alimentos listados acima sejam orgânicos”
referindo-se a lista divulgada pela ANVISA. Será que isso resolve ou nos põe em
risco? Exemplos mostrados pelos meios de comunicação a respeito da contaminação
de brotos de feijão na Alemanha com a bactéria E. coli causou a morte de pelo
menos 30 pessoas, e isso não seria relevante para termos mais cuidados.
Há estudos científicos que
comprovam que orgânico é melhor que convencional? Pesquisando encontramos um
estudo conduzido pela Agência de Alimentos do Governo da Inglaterra e o
trabalho publicado no American Journal of Clinical Nutrition, representa a
maior revisão de estudos já feita sobre o tema com 162 artigos científicos
publicados nos últimos 50 anos. De acordo com os pesquisadores, os alimentos
chamados orgânicos – aqueles que utilizam fertilizantes e defensivos agrícolas
e não-derivados de ingredientes químicos – não têm benefícios nutricionais
superiores aos dos alimentos cultivados com adubos e defensivos sintéticos.
Será que os alimentos produzidos na Inglaterra e nos Estados Unidos são
diferentes dos produzidos no Brasil?
Talvez, em paladar, alguns,
mas em componentes nutricionais é muito difícil. Outro dado interessante é que
toxicologistas do mundo inteiro nunca comprovaram casos ou problemas de câncer
relacionados aos defensivos em seres humanos, o que há são hipóteses, mas nunca
relacionado à alimentação e sim a exposição dos aplicadores.
Pois bem, esclarecer é
fundamental. Acredito que hoje vocês imaginam que não sejam utilizados produtos
químicos na agricultura orgânica, estou certo? Que exista controle do que é
utilizado na produção orgânica pelas autoridades? Vocês já ouviram falar em
calda bordalesa e óleo de nin ambos usados na agricultura orgânica? Eis a
resposta: são produtos químicos, mas não sintetizados, que tem suas restrições
de uso como os defensivos, portanto, estamos colocando em conflito a
agricultura, ambas são importantes e têm seus clientes, o que precisamos são
pessoas que busquem as respostas na ciência e não na ideologia.
Diante dessas premissas
existem questões que devemos refletir como, por exemplo, se não houvesse mais
agrotóxicos no mundo, será que o custo dos alimentos seria o mesmo? Será que
37% dos empregos gerados no Brasil existiriam? Vamos mais longe: será que
manteríamos a balança comercial do Brasil no verde? Pois é, antes de
criticarmos algo, precisamos refletir sobre as implicações que tais decisões
possam afetar em nossas vidas. Dito isto, pesquisas que duram anos para que um
defensivo esteja apto a ser comercializado, apresento-lhes algumas informações
importantes. Os fatores de segurança utilizados para estes produtos são na
ordem de 100 quanto ao risco de exposição (aplicador), pois consideramos que o
homem é 100 vezes mais sensível que um camundongo. Para comparar, na construção
civil o fator usado fica em torno de quatro. No quesito segurança alimentar,
estamos preocupados com a seguinte a pergunta: “comer alimentos onde se usa
agrotóxicos é seguro?”. Respondo a vocês com todas as letras “SIM”, é seguro.
Para que vocês entendam este
processo e conceitos, é preciso esclarecer algumas métricas. No Brasil, a
própria ANVISA - que divulga dados do monitoramento de agrotóxicos nos
alimentos, utiliza estes conceitos: Limite Máximo de Resíduos – LMR – é a
quantidade máxima de resíduos permitido, para um determinado produto, em uma
determinada cultura. É um valor para o mercado, mas dentro da faixa de
segurança toxicológica. Um valor acima do LMR significa que o produto é
impróprio para o mercado, mas isto não quer dizer que seja um problema
toxicológico (muito pelo contrário, os valores de segurança determinados pelo
governo apresentam altos fatores de segurança, igual ao que se pratica no mundo
todo).
O outro fator é Ingestão
Diária Aceitável – IDA – valor, determinado pela ANVISA, no Brasil, que
significa a quantidade máxima de uma determinada substância que pode ser
ingerida, por toda a vida, que parece não oferecer risco à saúde humana, à luz
dos conhecimentos atuais. É um parâmetro global, definido pela OMS (Organização
Mundial da Saúde) e aplica-se a toda substância química que possa ser ingerida,
não se restringindo aos defensivos agrícolas. Após esclarecer estes conceitos,
chegamos ao ponto de partida: os resultados do PARA (Programa de Analise de
Resíduos de Agrotóxicos) são importantes, porém sua amostragem é
insatisfatória, pois analisou e divulgou dados de alimentos consumidos no ano
anterior e, infelizmente, de forma direcionada e ideológica, colocando receio
nas pessoas que vivem nas cidades.
Vejam, quando se fala que, 91,8%
das amostras de pimentão, 63,4% do morango, 57,4% do pepino, como exemplo,
estão contaminadas ou reprovadas, não significa que você estará intoxicado ou
haverá algum dano a sua saúde caso utilize este alimento. No caso do pimentão é
mais emblemático ainda: das 91,8% das amostras analisadas nenhuma amostra
apresentou LMR acima do permitido. O que ocorreu foi o uso não autorizado deste
defensivo para produzir este alimento. E agora, devemos proibir a produção de
pimentão, sendo que o próprio governo não autoriza produtos para a cultura? E o
produtor está errado em produzir e usar estes produtos?
Atualmente no Brasil,
produtores de tomate têm como segunda receita a produção de pimentão, que
utiliza praticamente os mesmos defensivos utilizados no tomate, pois as pragas
são as mesmas. Além disso, hoje não há no mercado produtos autorizados pelos
órgãos responsáveis (MAPA, ANVISA e IBAMA), de quem é a culpa? São questões
difíceis de serem respondidas, pois estamos falando de pessoas que vivem desta
atividade.
Por fim, acredito que devemos
pautar estes assuntos com muita serenidade e com dados científicos é importante
para o esclarecimento público. Já revisões, opiniões sem conhecimento e dados,
levam as pessoas que não conhecem a discriminar ambas as atividades, tanto
orgânico como o convencional. Agricultura Orgânica é importante? Claro, o
problema é que o Brasil está muito aquém de termos uma agricultura orgânica
exemplar, somos um país tropical, onde as pragas destroem as culturas, caso não
sejam protegidas, e a função principal do defensivo é proteger as plantas, nada
mais. E agricultura convencional é importante? Importantíssima, não vivemos sem
alimentos e, de preferência, baratos, por isso rastreabilidade e segurança
alimentar são bem-vindas ao nosso dia-a-dia. O que precisamos é fundamentar e
esclarecer as pessoas que estão nas cidades de forma cientifica, para não
criarem receio em nos alimentarmos. Como dizia um grande professor e médico da
UNICAMP Sr. Zeferino Vaz (in memorian) “quando a ideologia entra para porta da
frente da universidade a ciência sai pela porta dos fundos.” Que levemos isto
para nossas vidas.
Eng. Agr. José Annes Marinho
é gerente de educação da ANDEF EDU.
Ass. Nacional de Defesa
Vegetal - ANDEF
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