AGRONEGÓCIOS
Tanair Maria entrevista Eron Bezerra
(1 Parte)
A edição do Jornal do Commercio que circulou no dia
27 de outubro passado trouxe oportuna entrevista concedida pelo secretário estadual
Eron Bezerra à jornalista Tanair Maria. Vários aspectos da cadeia produtiva do
pescado foram abordados pelo atual gestor do Sistema Sepror que, no meu ponto
de vista, é mais um forte candidato para brigar por uma das cadeiras de
deputado federal nas eleições de 2014. Pegando gancho dos assuntos levantados
na entrevista farei alguns comentários que entendo ser pertinentes e que podem
contribuir para o melhor aproveitamento do potencial pesqueiro do Amazonas (extrativo,
manejo de lagos e piscicultura). Até entendo as razões do secretário não ter
feito qualquer comentário sobre a pequena estrutura da secretaria executiva de
pesca e aquicultura comandada pelo Geraldo Bernardino, Ivo Calado e outros
competentes técnicos. A “SEPA” faz verdadeiros milagres para desenvolver suas
funções num estado continental e trabalhando numa atividade que emprega mais do
que o Polo Industrial. De cara, pela importância que o setor pesqueiro representa
para a economia local, deveria ser uma secretaria independente e altamente
estruturada, mas não é. Portanto, não adianta o governador cobrar mais
produção, preços baixos ao consumidor e menos importação de pescado de estados
vizinhos (Roraima e Rondônia) sem fortalecer a SEPA. Discordo de sua vinculação
ao Sistema Sepror por acreditar que, de fato, poderemos ser um expressivo
produtor e exportador dessa importante proteína animal.
Pesca Extrativa
Deixando de lado a questão estrutural dos entes
públicos envolvidos no setor e já entrando na pesca extrativa é fácil concluir,
principalmente para quem visita as feiras da cidade, que ainda temos uma farta
produção pesqueira, mas certamente a tendência é esgotar essa reserva natural.
Até hoje, passados longos anos, não temos uma comprovação científica dos
benefícios do seguro defeso para as espécies protegidas. São milhões e milhões
investidos anualmente pelo governo federal sem ter a certeza de que os
objetivos estão sendo alcançados. O único fato comprovado é o desvio, ou seja,
gente que não pesca recebendo o seguro defeso. Outro grande absurdo que
acontece na pesca extrativa refere-se ao preço pago pelas indústrias aos
pescadores artesanais em momentos de safra. Inaceitáveis “centavos” pelo quilo
de peixes populares que chegarão à merenda escolar, lojas de conveniências e
supermercados com valores turbinados ao público consumidor. Guardo comigo uma
nota fiscal que comprova o pagamento de absurdos R$ 0,50 centavos no quilo do jaraqui, e ainda
tenho notícias de menor valor. No sábado passado, 09, fui ao DB e encontrei o
quilo da sardinha tratada por R$ 10,00 (dez reais). No mesmo dia, visitando uma
loja especializada em pescado, encontrei o mesmo produto por R$ 15,00 kg. Nos
dois casos, os produtos foram processados por indústrias instaladas em
Manacapuru. Também nos dois casos, justiça seja feita, o alimento era de alta
qualidade. Isso é muito bom, e já é um grande avanço. O problema é que o
principal ator de toda essa cadeia extrativa, o pescador, é explorado no
momento da comercialização e regularmente exposto ao sol e, consequentemente,
ao câncer de pele e problemas na visão. Sem falar do consumidor amazonense de baixa
renda que não consegue comprar esses produtos. Em síntese, na pesca extrativa
penso que somente a indústria, varejistas e o consumidor de classe alta estão
levando vantagens.
Pescador e consumidor de baixa renda
Pensando nesses dois públicos, e em reduzir o
desperdício nos piques de safra, estado e governo federal implementaram recentemente
dois bons programas. O “peixe popular” e o “compra direta de pescado”, este
último faz parte do Programa de Aquisição de Alimentos, operado com recursos do
MDS. Acompanhei o nascimento do “peixe popular” no auditório da Sepror e sua
execução nos anos seguintes, portanto, posso afirmar que foi estratégico para
amenizar e esclarecer os verdadeiros motivos que envolviam os peixes jogados no
lixo na Panair, assim como possibilitou vender peixes a preços acessíveis nos
bairros de Manaus. No âmbito federal, por meio do instrumento denominado de
“Compra Direta de Pescado”, a Conab/AM já comprou, em Manacapuru, mais de 100
toneladas de pescado (jaraqui, pacu, sardinha, curimatã, branquinha etc)
diretamente do pescador artesanal (com DAP) pagando o preço de R$ 1,50 kg. Todo
esse pescado está sendo entregue ao Programa Mesa Brasil/SESC/AM que os destina
às instituições sociais cadastradas sem qualquer custo. Nessa ação, em
Manacapuru, além da Conab e Mesa Brasil, a participação do IDAM, Prefeitura, Consea,
Associação e Colônia tem sido fundamental. Já finalizando, aproveito o momento
para dizer ao secretário Eron Bezerra que o PAA operado pelo Sistema Sepror
(grande conquista para o Amazonas) também pode fazer a aquisição desse pescado
popular nos moldes do que vem sendo executado pela Conab, desde que o preço
seja R$ 1,50 kg e que não ocorra duplicidade na participação de pescadores
artesanais. É uma questão de acompanhamento e controle. Por falar em controle
defendo, cada vez mais, que os programas públicos de comercialização efetuem o
pagamento da produção adquirida ou subvencionada diretamente na conta do
pescador, agricultor e/ou extrativista, ou seja, sem qualquer intermediação. Os
comentários sobre o “pirarucu de manejo” e a “piscicultura” no Amazonas ficam
para a próxima semana.
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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