AGRONEGÓCIOS
Ainda não foi em 2013!
Três recentes manchetes de fim de ano amplamente
divulgadas na internet me levaram a concluir, mais uma vez, que o setor
primário do Amazonas precisa, urgentemente, de maior aproximação do
poder executivo e dos parlamentares se realmente quiser transformá-lo em novo
modelo econômico. As boas notícias dessas manchetes lamentavelmente não
acontecem por aqui. Observo que o setor rural local não é prioridade, sendo
apenas um potencial presente nos discursos e nas festivas doações de
implementos agrícolas no interior. Deveríamos fazer festa quando nosso produtor
já tiver acesso ao seguro rural, às portarias do Zoneamento Agrícola de Risco
Climático, ao Garantia-Safra, ao Seguro Várzea, ao PAA Leite e, acima de tudo,
ao crédito rural das Agriculturas Familiar e Empresarial. Essas são, de fato,
ações definitivas e que certamente deixarão nossos produtores rurais
independentes de ações beneficentes dos três níveis de governo que, durante
décadas, estão servindo apenas para eleger este ou aquele candidato, mas que
jamais mudarão a vida no interior e a dependência econômica do Polo Industrial
de Manaus cujo modelo é ameaçado sistematicamente. As manchetes que me chamaram
atenção foram: “Mais de 600 mil agricultores serão beneficiados com parcelas
extras do Garantia Safra”; “Agricultura Empresarial contrata R$ 73 bilhões em
2013” e “RN terá R$ 25 milhões para Leite”.
Reflexões sobre as manchetes
Apesar de já existir por mais de dez anos, o
Garantia Safra ainda não chegou ao Amazonas por absoluta falta de interesse
local. Até noto grande interesse em nível das secretarias, mas também observo
que os secretários tem enorme dificuldade de agenda com o governador. Ficou
para 2014 a necessária e justa implementação do Garantia Safra no Amazonas.
Espero que não seja adiado novamente. Será que nem o fato de estar beneficiando
600 mil no Nordeste não anima o poder executivo a priorizar esse assunto?
Lembro que o recurso financeiro é quase que exclusivo do Governo Federal. Com
relação ao crédito rural, seja empresarial ou familiar, é do conhecimento de
todos que somente é viabilizado através do Banco do Brasil, Banco da Amazônia
e, mais recentemente, pela CAIXA. Historicamente, estamos entre os estados com
menor acesso a esses bilhões. E o motivo é simples: o Amazonas é um estado
continental, entretanto, com o menor número de agentes financeiros impedindo o
agricultor, pescador e extrativista de acessar esse recurso que viabiliza a
produção agropecuária e, consequentemente, a soberania e a segurança alimentar
e nutricional do nosso povo. Já disse e volto a repetir, ações itinerantes não
resolvem o histórico problema do crédito nesta região. Precisamos da presença
física desses agentes em todos os municípios, contudo, o que percebo são
agências sendo inauguradas somente em Manaus. Tem outro grande equívoco que
precisa ser corrigido. Enquanto tem município com os três agentes financeiro
(BB, BASA e CAIXA), outros sequer têm a presença de um deles. Tá errado, isso precisa ser planejado para
amenizar esse vazio bancário. Ultimamente, tem se falado na parceria dessas
instituições com os sindicatos para viabilizar o maior acesso ao crédito rural.
Pelo que conheço, apesar da boa vontade, os sindicatos do interior já tem
enorme dificuldade para emitir a DAP. Será que para o crédito rural terão
facilidade? Penso que a atual estrutura não permite a execução de mais essa
importante tarefa.
Um dos últimos na Região Norte
Toda essa falta de atenção e prioridade reflete na insignificante
produção interna de alimentos básicos. Analisando a produção de grãos somente
na Região Norte percebi que estamos atrás de Roraima, Rondônia e Pará.
Produzimos 42,8 mil toneladas/ano, enquanto no Pará é de 1.291 mil toneladas;
em Rondônia é de 1.225 mil toneladas e, em Roraima, é de 156,3 mil toneladas.
Esse resultado negativo certamente é resultado do baixo acesso ao crédito rural
disponibilizado nos planos safras e, também, do afastamento do setor rural
local do poder executivo e dos parlamentares. A união só existe quando é em
defesa do Polo Industrial de Manaus. Até entendo a defesa intransigente do Polo
Industrial de Manaus, afinal de contas boa parte das doações de campanha vem
desse setor. Lembro bem que, nas últimas eleições municipais, só uma indústria
doou R$ 400 mil para os candidatos a prefeito de Manaus. Nosso setor rural
ainda não tem essa capacidade financeira, mas são os caboclos do interior, com
seus votos, que definem as eleições no estado. Portanto, merecem respeito e
defesa dos pleitos que melhoram a vida
na área rural. Espero, sinceramente, que 2014 seja o ano da virada, o ano que
definitivamente os atores do setor primário amazonense passem a cobrar do novo governador,
vice, senadores e deputados eleitos a mesma atenção que dedicam ao modelo ZFM.
Que em 2014 o potencial saia do discurso e que a tão sonhada interiorização do
desenvolvimento passe a ser realidade. Os Sistemas FAEA, FETAGRI e OCB tem
papel fundamental e estratégico nessa maior aproximação. Aliás, justiça seja
feita, se não fosse a luta, determinação e os esforços do Muni e do Petrúcio
algumas conquistas rurais não teriam sido alcançadas nem tampouco discutidas.
Até 2014, se Deus permitir.
31.12.2013
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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