AGRONEGÓCIOS
O Amazonas e seus problemas
Recorro ao título dos inúmeros livros
publicados pelo inesquecível Eurípedes Ferreira Lins para dar nome ao artigo de
hoje. Nas várias edições de “O Amazonas e seus Problemas” o ex-presidente da FAEA
e idealizador da primeira exposição agropecuária do Amazonas sempre falou do
que mais conhecia e amava: o setor rural do maior estado brasileiro. Eurípedes
sempre acreditou na força econômica do campo como estratégia para melhorar a
vida no interior e na capital, mas, lamentavelmente, esse potencial continua
adormecido e problemas antigos continuam existindo. Semana passada, participei
da solenidade em homenagem ao “Dia do Agricultor” que aconteceu no plenário da
Assembleia Legislativa e, também, da segunda reunião da Câmara Estadual de
Fibras Naturais. Nos dois eventos, vários foram os relatos dos entraves
agropecuários do Amazonas. Na Assembleia, antes de iniciar os discursos, a
amiga e jornalista Margarida Galvão me fez a seguinte pergunta: “Thomaz, temos
algo a comemorar no dia do agricultor?”. Confesso que, timidamente, respondi
que “sim”, mas direcionei a resposta aos temas que precisamos avançar. Ao
iniciar a sessão, logo me chamou a atenção o número de parlamentares presentes.
Somente três, ou seja, apenas 13% do total. Certamente todas as ausências são
justificáveis, mas se o assunto fosse o Polo Industrial de Manaus, será que teríamos
o mesmo quórum? Em um dos momentos da solenidade a tribuna foi ocupada por um
produtor de Novo Remanso, região que é exemplo de sucesso na atividade rural e
que produz o abacaxi mais doce do Brasil. Ele fazia um duro apelo para a
recuperação da estrada que dá acesso a comunidade. Estive lá recentemente, e
pude constatar as precárias condições do asfaltamento. Inaceitável, é buraco
pra todo lado. Enquanto isso, gastamos milhões com a ponte sobre o Rio Negro e
continuamos investindo mais milhões no novo estádio. O que foi gasto nessas
duas gigantescas obras seriam mais do que o suficiente para recuperar todos os
ramais do Amazonas e estruturar o IDAM (física e de pessoal) nos 62 municípios.
Passa, necessariamente, pelo IDAM a conquista da soberania e a segurança
alimentar e nutricional do nosso povo. Aliás, é a entidade pública com o maior
número de demandas e de parcerias formalizadas. Atende tudo, todos, e muito
bem. Quem acompanha esta coluna sabe que questionei a necessidade da ponte,
sempre lembrando que a precariedade dos ramais impedia o escoamento da
produção. Grande parte os atores do setor primário local optou pelo silêncio. Hoje,
quem tá pagando essa conta é o Novo Remanso. E as outras comunidades?
200 mil sem DAP, sem crédito, sem dinheiro
Na abertura do último ETAF, o presidente
do IDAM, Edimar Vizolli, deixou claro que disparadamente o maior emissor da DAP
é o órgão que ele comanda, e que o sistema do MDA já registra 75 mil
declarações. Disse, ainda, que 55 mil agricultores já possuem a carteira de
produtor rural. Reconheço que são números incontestáveis e que o esforço para
chegar nesse nível foi enorme. Entretanto, se considerarmos que tudo isso foi
feito em dez anos, fica fácil concluir que o avanço foi muito lento. Olhando
por outro ângulo, temos mais de 200 mil produtores que não tem DAP, mais de 200
mil que não tem a carteira de produtor. No “CAR”, a defasagem é ainda maior. Na
comercialização, apesar dos novos instrumentos (PREME, PAA e PNAE), penso que
somente 15% dos produtores rurais do estado estão acessando esses programas. E
os 85%? No crédito rural do Pronaf - sem DAP e sem agente financeiro oficial em
mais de 40 municípios do interior - ocupamos um dos últimos lugares no acesso
aos bilhões dos dois planos safras, o empresarial e o da agricultura
familiar. Ainda não temos uma cultura
agrícola amparada pelas portarias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático. É
o único estado sem essa ferramenta. Não temos o seguro rural, nem o
garantia-safra. Não produzir milho nas várzeas é um grande absurdo. Levar meses
para pagar o subsídio aos seringueiros e juticultores é outra situação que não
pode continuar. Passado meses, penso que, até hoje, nem FAEA nem OCB, receberam
a confirmação para pagar mais R$ 0,20 kg aos produtores de juta e malva. Vejam
bem, estou falando em “vinte centavos”, e não dos bilhões da ponte e da arena.
Seguramente não somos prioridade.
Virar esse jogo
Nas demais regiões do país tenho
observado uma bancada unida e atuante em prol do setor rural. No Amazonas, esse
esforço concentrado só existe quando o modelo “Zona Franca de Manaus” é alvo de
ataques. Qual a razão desse esforço não existir para a solução dos problemas do
agricultor familiar, pescador e extrativista? Concordo plenamente com o Vizolli
sobre o inaceitável distanciamento entre os órgãos do setor primário e a
bancada federal do Amazonas. Na reunião da Sub-Câmara de Fibras Naturais
defendi que os Sistemas FAEA, FETAGRI e OCB convoquem, trimestralmente, o
coordenador da bancada federal para debater e criar estratégias para o
desenvolvimento rural sustentável do Amazonas. Tenho a convicção de que
avançaremos na velocidade desejada pelo produtor rural se adotarmos essa
postura, pois o setor não pede nada imoral, apenas o possível, justo e
necessário.
Os números do IDH
É triste receber a notícia de que, entre
os 50 piores IDHs do Brasil, nossos municípios representam 20% desse total. É
no mínimo incômodo dizer que estamos avançando no setor rural quando temos
Tapauá, Barcelos, Maraã, Pauini, Santo Antonio do Icá, Ipixuna, Santa Isabel do
Rio Negro, Itamarati e Atalaia do Norte nessa lista. É o que penso!
Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles,
servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação
ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com
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