terça-feira, 13 de agosto de 2013

"O Amazonas e seus Problemas" - Artigo (Jornal do Commercio)


AGRONEGÓCIOS
O Amazonas e seus problemas

Recorro ao título dos inúmeros livros publicados pelo inesquecível Eurípedes Ferreira Lins para dar nome ao artigo de hoje. Nas várias edições de “O Amazonas e seus Problemas” o ex-presidente da FAEA e idealizador da primeira exposição agropecuária do Amazonas sempre falou do que mais conhecia e amava: o setor rural do maior estado brasileiro. Eurípedes sempre acreditou na força econômica do campo como estratégia para melhorar a vida no interior e na capital, mas, lamentavelmente, esse potencial continua adormecido e problemas antigos continuam existindo. Semana passada, participei da solenidade em homenagem ao “Dia do Agricultor” que aconteceu no plenário da Assembleia Legislativa e, também, da segunda reunião da Câmara Estadual de Fibras Naturais. Nos dois eventos, vários foram os relatos dos entraves agropecuários do Amazonas. Na Assembleia, antes de iniciar os discursos, a amiga e jornalista Margarida Galvão me fez a seguinte pergunta: “Thomaz, temos algo a comemorar no dia do agricultor?”. Confesso que, timidamente, respondi que “sim”, mas direcionei a resposta aos temas que precisamos avançar. Ao iniciar a sessão, logo me chamou a atenção o número de parlamentares presentes. Somente três, ou seja, apenas 13% do total. Certamente todas as ausências são justificáveis, mas se o assunto fosse o Polo Industrial de Manaus, será que teríamos o mesmo quórum? Em um dos momentos da solenidade a tribuna foi ocupada por um produtor de Novo Remanso, região que é exemplo de sucesso na atividade rural e que produz o abacaxi mais doce do Brasil. Ele fazia um duro apelo para a recuperação da estrada que dá acesso a comunidade. Estive lá recentemente, e pude constatar as precárias condições do asfaltamento. Inaceitável, é buraco pra todo lado. Enquanto isso, gastamos milhões com a ponte sobre o Rio Negro e continuamos investindo mais milhões no novo estádio. O que foi gasto nessas duas gigantescas obras seriam mais do que o suficiente para recuperar todos os ramais do Amazonas e estruturar o IDAM (física e de pessoal) nos 62 municípios. Passa, necessariamente, pelo IDAM a conquista da soberania e a segurança alimentar e nutricional do nosso povo. Aliás, é a entidade pública com o maior número de demandas e de parcerias formalizadas. Atende tudo, todos, e muito bem. Quem acompanha esta coluna sabe que questionei a necessidade da ponte, sempre lembrando que a precariedade dos ramais impedia o escoamento da produção. Grande parte os atores do setor primário local optou pelo silêncio. Hoje, quem tá pagando essa conta é o Novo Remanso. E as outras comunidades?

200 mil sem DAP, sem crédito, sem dinheiro

Na abertura do último ETAF, o presidente do IDAM, Edimar Vizolli, deixou claro que disparadamente o maior emissor da DAP é o órgão que ele comanda, e que o sistema do MDA já registra 75 mil declarações. Disse, ainda, que 55 mil agricultores já possuem a carteira de produtor rural. Reconheço que são números incontestáveis e que o esforço para chegar nesse nível foi enorme. Entretanto, se considerarmos que tudo isso foi feito em dez anos, fica fácil concluir que o avanço foi muito lento. Olhando por outro ângulo, temos mais de 200 mil produtores que não tem DAP, mais de 200 mil que não tem a carteira de produtor. No “CAR”, a defasagem é ainda maior. Na comercialização, apesar dos novos instrumentos (PREME, PAA e PNAE), penso que somente 15% dos produtores rurais do estado estão acessando esses programas. E os 85%? No crédito rural do Pronaf - sem DAP e sem agente financeiro oficial em mais de 40 municípios do interior - ocupamos um dos últimos lugares no acesso aos bilhões dos dois planos safras, o empresarial e o da agricultura familiar.  Ainda não temos uma cultura agrícola amparada pelas portarias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático. É o único estado sem essa ferramenta. Não temos o seguro rural, nem o garantia-safra. Não produzir milho nas várzeas é um grande absurdo. Levar meses para pagar o subsídio aos seringueiros e juticultores é outra situação que não pode continuar. Passado meses, penso que, até hoje, nem FAEA nem OCB, receberam a confirmação para pagar mais R$ 0,20 kg aos produtores de juta e malva. Vejam bem, estou falando em “vinte centavos”, e não dos bilhões da ponte e da arena. Seguramente não somos prioridade.

Virar esse jogo
Nas demais regiões do país tenho observado uma bancada unida e atuante em prol do setor rural. No Amazonas, esse esforço concentrado só existe quando o modelo “Zona Franca de Manaus” é alvo de ataques. Qual a razão desse esforço não existir para a solução dos problemas do agricultor familiar, pescador e extrativista? Concordo plenamente com o Vizolli sobre o inaceitável distanciamento entre os órgãos do setor primário e a bancada federal do Amazonas. Na reunião da Sub-Câmara de Fibras Naturais defendi que os Sistemas FAEA, FETAGRI e OCB convoquem, trimestralmente, o coordenador da bancada federal para debater e criar estratégias para o desenvolvimento rural sustentável do Amazonas. Tenho a convicção de que avançaremos na velocidade desejada pelo produtor rural se adotarmos essa postura, pois o setor não pede nada imoral, apenas o possível, justo e necessário.

Os números do IDH

É triste receber a notícia de que, entre os 50 piores IDHs do Brasil, nossos municípios representam 20% desse total. É no mínimo incômodo dizer que estamos avançando no setor rural quando temos Tapauá, Barcelos, Maraã, Pauini, Santo Antonio do Icá, Ipixuna, Santa Isabel do Rio Negro, Itamarati e Atalaia do Norte nessa lista. É o que penso!

 13.08.2013

Thomaz Antonio Perez da Silva Meirelles, servidor público federal, administrador, especialização na gestão da informação ao agronegócio. E-mail: thomaz.meirelles@hotmail.com

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